Alan Brizotti
Um escritor antigo registrou uma poderosa verdade: a maior notícia que o mundo já ouviu veio de um túmulo vazio!
Ressurreição! O texto de Mateus 28. 1-10 traz a mais extraordinária de todas as notícias: “Ele vive!” A ressurreição de Cristo é o ponto focal da esperança cristã. O apóstolo Paulo, por exemplo, faz referência a esse fato marcante cerca de 53 vezes em seus escritos.
Um dos grandes perigos da atualidade é a sutil desconstrução da ressurreição – num mundo sem encantos, uma ressurreição sem fascínio, sem perplexidade, uma teologia sem prática. É a tentativa satânica de ridicularizar o magistral.
O que mais me encanta na ressurreição de Cristo é que, mesmo sendo extraordinária, operou no comum. Não foi um evento sufocante. Jesus se recusou a usá-la como mecanismo de intimidação ou emocionalismo. Ele poderia dizer, no ápice da cruz: “aguardem! Em três dias vou aparecer retumbante e vocês verão com quem estão lidando!” Não! A ressurreição foi o evento do amor, não do medo.
Eugene Peterson frisa que a ressurreição se dá na companhia de amigos que se conhecem pelo nome. O verso 10 enfatiza a frase: “avise aos meus irmãos”. Não foi uma exibição impessoal feita diante de multidões ávidas pelo êxtase barato do místico. Foi vivenciada numa abençoada rede de contatos pessoais. Privilégio dos íntimos.
Há alguns detalhes na narrativa bíblica que ainda me emocionam:
1. Mulheres lutando contra a realidade inflexível da morte
Marcos e Lucas citam as mulheres comprando perfume para levarem ao túmulo. Elas foram prestar um culto perfumado no ambiente dos cheiros detestáveis. Parece até que recebem por compensação a maravilha da anunciação: porque tiveram amor suficiente para adorá-lo enquanto ainda estava morto, agora terão a honra de anunciar ao mundo que “Ele vive!”
A ressurreição lhes reservava uma reviravolta: elas foram ao túmulo cuidar dos assuntos que envolviam a morte, mas foram surpreendidas e passaram a espalhar a notícia da vida! Foram ao lugar das lágrimas e receberam o maior de todos os sorrisos.
Elas estavam preocupadas com a pedra e o trabalho que teriam para removê-la. Esqueceram do que o próprio Jesus revelou sobre o Pai: “meu Pai trabalha!” Deus é o único Deus trabalhador da história! Chegaram ao túmulo e o trabalho já tinha sido feito.
Até hoje, muitos culpam Eva, no Éden, pelos rumos que a humanidade tomou, como se ela fosse a única responsável por abrir a porta da última solidão. Agora, na ressurreição, começa a acontecer o que chamo de “restauração de Eva”. O feminino marca presença. O primeiro olhar para o Cristo Vivo é feminino. Em João 20.15 entra o grande detalhe: “Ela pensou que ele fosse o jardineiro” – ela acertou! O jardineiro voltou. A ressurreição trouxe o paraíso de volta aos olhos. É a redenção de Eva.
2. Jesus apresentou à morte a reversão da irreversibilidade (I Co. 15. 52-57)
A morte é marcada por uma palavra dura: Irreversível! Se alguém morre, uma certeza temos: nunca mais o veremos. Esse alguém não voltará a bater na porta de nossa casa. É irreversível. A morte costuma causar em nós sensações terríveis. Não conheço nenhuma pessoa que goste de dar ou receber notícias de morte. A fala demora a sair, as lágrimas descem. A morte nos tira do chão.
Agora, o que me dá um canto de vitória é saber que o que a morte causa em nós, Jesus causou na morte! Imagine o susto que o Império da Morte levou ao ver Jesus vivo novamente depois de três dias! Jesus apresentou-lhe a reversão da irreversibilidade e colocou esse cântico magnífico na boca de Paulo:
“Num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos serão ressuscitados incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque é necessário que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade e que isto que é mortal se revista da imortalidade. Mas, quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrito: Tragada foi a morte na vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão? O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Mas graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo”.
John Donne (1573-1631) escreveu um poema chamado “Morte, não te orgulhes”:
Morte, não te orgulhes, embora alguns te tenham chamado
De poderosa e espantosa, pois não és tal;
Pois aqueles que pensas teres vencido,
Não morrem, pobre morte; e nem podes matar-me.
Do descanso e do sono, que são apenas tuas figuras,
Vem muito prazer; então de ti muito mais deve vir;
E logo nossos melhores homens contigo se vão –
Mas isso é repouso para seus ossos, e livramento da alma!
És escrava da sorte, da chance, de reis e homens desesperados,
E habitas com o veneno, a guerra e a enfermidade;
Papoula e encantamentos podem fazer-nos dormir também,
E são melhores que teu golpe. Por que te inchas, pois?
Passado um breve sono, e despertamos eternamente,
E a morte já não existirá: morte, tu morrerás!
De poderosa e espantosa, pois não és tal;
Pois aqueles que pensas teres vencido,
Não morrem, pobre morte; e nem podes matar-me.
Do descanso e do sono, que são apenas tuas figuras,
Vem muito prazer; então de ti muito mais deve vir;
E logo nossos melhores homens contigo se vão –
Mas isso é repouso para seus ossos, e livramento da alma!
És escrava da sorte, da chance, de reis e homens desesperados,
E habitas com o veneno, a guerra e a enfermidade;
Papoula e encantamentos podem fazer-nos dormir também,
E são melhores que teu golpe. Por que te inchas, pois?
Passado um breve sono, e despertamos eternamente,
E a morte já não existirá: morte, tu morrerás!
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