Aonde realmente Deus reside? Muitos podem impensadamente responder: “ué, na Igreja!” Será? Quando era mais novo eu vivenciei muito isso, pois quando ia à igreja num final de semana, imaginava que em algum lugar do templo, era a residência do Divino. Minha vida toda foi influenciada por essa ótica. Tanto era que quando saia do recinto da igreja (final de algum culto) parecia que estava distanciando-me totalmente da “presença” de Deus. A maneira de escapar disso era esperando o próximo momento do culto cristão. Esses dias pude constatar essa experiência na vida de outra pessoa que professava a mesma fé que eu. Isso se deu quando começava o período do louvor e ela fez a seguinte oração: “boa noite Deus! Como é bom estar em Tua casa...”. Mediante isso, surgiu-me uma pergunta: “Deus realmente habita no templo?”
A ideia da possível habitação do Criador no templo não é nova, desde a época de Davi já existia essa compreensão: “disse ele ao profeta Natã: Eis que eu moro numa casa de cedro, enquanto que a arca de Deus dentro de uma tenda” (II Sm 7:2). Em um contexto totalmente marcado pela religiosidade tribal, não era anormal a pretensão do rei Davi. Todos os povos tribais da época tinham seus deuses e cada um deles através da cosmovisão da cultura local habitavam em algum tipo de santuário. Principalmente os judeus que “possuíram” uma terra repleta de experiências pagãs como foi Canaã.
Na Idade Média, essa mentalidade era comum, devido os católicos romanos fortalecerem essa compressão da residência de Deus no templo. Acredita-se que nesse período, a arquitetura dos templos católicos transmitia a ideia da grandeza do eterno Deus em comparação com a pequenez e temporalidade dos homens. Por isso, que as catedrais católicas são enormes (porta, janela, pilastras e etc) para possivelmente comportar a presença do Divino e para fazer uma distinção entre os homens e Deus, ou seja; enquanto os homens eram ímpios, Deus era justo; Enquanto eles eram finitos, Deus era infinito e etc. Naquela época também, tudo girava em torno da ótica da fé católica, ou seja, para toda a realidade e fenômeno da vida, a Igreja mãe tinha explicação. Era um período obscurantista, aonde ninguém conseguia ter contato com Deus sozinho, pois dependia da missa que era mediada pelo alto clero (padres). Na missa, todos por meio dos sacramentos, especialmente na eucaristia1 “sentiam” a presença de Deus entre eles. Todos os cristãos que acreditam que realmente Deus habita no templo ou no momento do culto e que por causa disso Ele precisa receber oferendas (ofertas), músicas e danças (rituais) podem está na verdade recopiando a liturgia pagã de muitos povos da era medieval.
Mesmo depois de séculos, essa mentalidade da residência de Deus continua entre nós. É inevitável para qualquer cristão entrar num templo e não sentir uma espécie temor. Um exemplo disso é que nossa postura dentro de uma Igreja é totalmente diferente de outro ambiente. Parece que dentro de um templo, mudamos até de personalidade: “quem é extrovertido fora dele (templo), vira uma pessoa séria dentro dele; quem é soberbo, „vira‟ humilde; quem é ladrão ou traficante ou mulherengo ou pedófilo e etc, „vira‟ uma pessoa de bem; quem é fora dele profano, dentro dele vira santo”. E por aí vai, porque a lista tende a ser longa nessa simples comparação.
1 Eucaristia (ritual de comunhão). É o primeiro dos sacramentos católicos romanos e momento em que os fiéis participam de uma espécie de ceia onde todos os presentes comem uma hóstia de trigo com ou sem vinho, que de acordo com a crença; foram transubstanciados no próprio corpo e sangue de Cristo.
Na antiga Aliança encontra-se uma direção para a resolução dessa compreensão:
“Vai, e dize a meu servo Davi: Assim diz o Senhor: Edificar-me-ás tu uma casa para eu nela habitar? Porque em casa nenhuma habitei, desde o dia em que fiz subir do Egito os filhos de Israel até o dia de hoje, mas tenho andado em tenda e em tabernáculo. E em todo lugar em que tenho andado com todos os filhos de Israel, falei porventura, alguma palavra a qualquer das suas tribos a que mandei apascentar o meu povo de Israel, dizendo: por que não me edificais uma casa de cedro?” (II Sm 7: 5-7). “Quanto a esta casa que tu estás edificando, se andares nos meus estatutos, e executares os meus preceitos, e guardares todos os meus mandamentos, andando neles, confirmarei para contigo a minha palavra, que falei a Davi, teu pai; e habitarei no meio dos filhos de Israel, e não desampararei o meu povo de Israel” (I Rs 6:12-13). “Mas, na verdade, habitaria Deus na terra? Eis que o céu, e até o céu dos céus, não te podem conter; quanto menos esta casa que edifiquei!”(Êx 8:27).
Observa-se por meio desses versículos bíblicos as recomendações do Senhor sobre o templo. No texto do profeta Samuel, registra-se o período em que Davi estava estabelecendo seu reinado sobre todas as tribos dos reinos do norte (Israel) e sul (Judá) depois da trágica morte do rei Saul. Naquele contexto de “realização” pelo o trono unificado, Davi esboça seu desejo na construção de uma possível casa para seu Deus: “Eis que eu moro numa casa de cedro, enquanto que a arca de Deus dentro de uma tenda” (II Sm 7:2). Para Davi, o seu Deus estava em prejuízo, porque como que ele simples mortal poderia ter uma mansão enquanto que o grande Rei dos reis habitava em um simples tabernáculo? A intenção do jovem rei foi boa, porém a mentalidade do Senhor foi outra: “Edificar-me-ás tu uma casa para eu nela habitar?” (II Sm 7:5). Em outras palavras, Deus queria mostrar para Davi que Ele, o Eterno não “poderia” residir naquilo que é temporal (templo) e muito menos havia pedido a construção de um templo. Já no texto do primeiro livro dos reis de Israel, vemos outra explicação do Senhor sobre o templo que os homens criaram para Sua possível habitação. Nesse segundo contexto, o jovem rei Salomão estava em alta no trono hebreu e em paz. Para cumprir com um dos pedidos do seu falecido pai (Davi), Salomão construiu o templo e consagrou-o ao Senhor Jeová. Entretanto, tanto Salomão como o povo hebreu, recebeu do Criador uma condição: “se eles obedecessem ao Senhor, Ele estaria no „meio‟ do povo, mas; se eles desobedecessem, Ele não mais „estaria‟ entre eles” (I Rs 6:12-13). Isso não quer dizer, que nossas ações definem a aproximação Divina sobre nossas vidas, porque como diz Paulo, somos salvos pela graça de Deus e essa salvação não depende de nós, mas sim do amor incondicional de d‟Ele sobre nós, pecadores (Ef 2: 8-9). O fato era: Deus estaria entre o povo (templo) pela condição da obediência irrestrita, entretanto; sabemos que segundo aquele período (Lei) ninguém seria justificado, dessa feita; não haveria como o Santo Deus permanecer habitando naquele templo. Somente em Cristo é que o homem na sua individualidade teve a chance de ter reestabelecido seu relacionamento com o Criador (Gn 3:8; Lc 23:45-46). Esses dois textos citados anteriormente são fundamentais para a compreensão de um dos maiores alvos da redenção messiânica, que é o reestabelecimento do relacionamento do homem com
Deus. No primeiro (Gn 3:8), o homem havia perdido esse relacionamento por meio do pecado (desejo de ser como Deus: Gn 3:3-6), porém no segundo texto (Lc 23:45-46), vemos a nossa comunhão com o Criador sendo renovada por meio da Obra vicária de Jesus Cristo.
Deus não se encontra no templo. A questão não é tão complicada de ser compreendida, pois a moradia Divina não se restringe a nenhum lugar:
“Disse-lhe a mulher: vejo que és profeta. Nossos pais adoraram neste monte, e vós dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar. Disse-lhe Jesus: Mulher, crê-me, a hora vem, em que nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos; porque a salvação vem dos judeus. Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e é necessário que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade” (Jo 4:19-24).
Isso quer dizer que o Pai não reside em nenhum lugar restrito, contudo; aqueles que foram feitos Sua imagem e semelhança (Gn 1:27) conseguem adorá-Lo. Por sermos a imagem de Deus, podemos aproximar-nos d‟Ele em qualquer momento ou circunstância. Em outra parte da Bíblia, Paulo fala que o ser humano é a habitação Divina: “Não sabeis vós que sois santuário de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque sagrado é o santuário de Deus, que sois vós” (I Co 3:16-17).
Essa era uma exortação paulina quanto ao amadurecimento na fé dos cristãos de Corinto que viviam sob a influência carnal (inveja, partidarismo, imoralidade, injustiça e etc). Partindo dessa exortação, podemos entender que a presença de Deus está nas pessoas e sobre todo o lugar. Ele não é um ser estático como os deuses pagãos que “vivem” em seus templos, Ele é dinâmico e se relaciona com sua criatura que foi feita sua imagem.
Deus está na Ecclesia2! O Senhor da Bíblia é dinâmico, isto é; Ele é onipresente e está atuando em todo o universo. Além disso, vale ressaltar que Deus é atemporal e “habitou” em Cristo (Jo 10:30) na história. Partindo desse pressuposto, entraremos em um dos maiores mistérios das Escrituras Sagradas que é a habitação do grande Eu Sou em Jesus de Nazaré. Antes, o Senhor “habitou” no tabernáculo (Êx 29:45-46), depois no templo (I Rs 6:13), adiante encarnou-se em Jesus, o nazareno (Jo 10:30) e agora mediante sua maravilhosa graça, Ele habita em nós (Rm 8:11). Dessa feita, Deus se faz presente na vida das pessoas (Ecclesia). Entendendo melhor essa ideia, chegaremos à conclusão de que nosso desejo em agradar a Deus mediante o culto cristão (cânticos, ofertas e por aí...) não é suficiente. Por que se chegamos a conclusão de que Deus está nas pessoas, qual seria a maneira de o agradar? Talvez alguém respondesse: “ ué, cantando pro homem (a); dando oferta pra alguém; construindo um templo para o povo”. Entretanto, não é isso, Deus não se satisfaz com música, oferenda (oferta), sacrifício e etc; pois Ele não é como os deuses pagãos que são frutos da imaginação de algumas
2 A Eclésia (em grego: Εκκλησία, ekklesia) era a principal assembleia popular da democracia ateniense na Grécia Antiga. Ecclesia é uma palavra latina, que quer dizer "igreja", atualmente, mas que significou, originalmente, "curral" ou "abrigo de ovelhas". O conjunto dos cristãos que se reúnem regularmente em um local (templo) também é chamado de igreja.
pessoas. Nos folclores de várias culturas tribais no mundo, observam-se vários rituais de culto (cântico, oferenda, sacrifício) aos deuses. Porém, em Jesus Cristo vemos o que Deus espera dos Seus:
“Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados. Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça porque eles serão fartos. Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus. Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguiram e, mentindo, disserem todo mal contra vós por minha causa. Alegrai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram aos profetas que foram antes de vós. Vós sois o sal da terra; mas se o sal se tornar insípido, com que se há de restaurar-lhe o sabor? para nada mais presta, senão para ser lançado fora, e ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte; nem os que acendem uma candeia a colocam debaixo do alqueire, mas no velador, e assim ilumina a todos que estão na casa. Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus” (Mt 5:3-16).
Se entendemos que Deus não está no templo estrutural e sim na vida das simples pessoas, aprenderemos a adorá-Lo como lhe é devido, ajudando uns aos outros (Rm 12:10; Gl 5:13), amando uns aos outros como Ele nos amou (Jo 13:34). Como faremos isso? Doando-nos para o bem do próximo, ou seja; revertendo os efeitos da queda sobre os homens levando dignidade, respeito, valorização e salvação a todos que vivem aquém da graça oferecida gratuitamente por Jesus Cristo na cruz do Calvário. Lembremos que quando estivermos em contato com qualquer pessoa, é hora de adorar a Deus!
A ideia da possível habitação do Criador no templo não é nova, desde a época de Davi já existia essa compreensão: “disse ele ao profeta Natã: Eis que eu moro numa casa de cedro, enquanto que a arca de Deus dentro de uma tenda” (II Sm 7:2). Em um contexto totalmente marcado pela religiosidade tribal, não era anormal a pretensão do rei Davi. Todos os povos tribais da época tinham seus deuses e cada um deles através da cosmovisão da cultura local habitavam em algum tipo de santuário. Principalmente os judeus que “possuíram” uma terra repleta de experiências pagãs como foi Canaã.
Na Idade Média, essa mentalidade era comum, devido os católicos romanos fortalecerem essa compressão da residência de Deus no templo. Acredita-se que nesse período, a arquitetura dos templos católicos transmitia a ideia da grandeza do eterno Deus em comparação com a pequenez e temporalidade dos homens. Por isso, que as catedrais católicas são enormes (porta, janela, pilastras e etc) para possivelmente comportar a presença do Divino e para fazer uma distinção entre os homens e Deus, ou seja; enquanto os homens eram ímpios, Deus era justo; Enquanto eles eram finitos, Deus era infinito e etc. Naquela época também, tudo girava em torno da ótica da fé católica, ou seja, para toda a realidade e fenômeno da vida, a Igreja mãe tinha explicação. Era um período obscurantista, aonde ninguém conseguia ter contato com Deus sozinho, pois dependia da missa que era mediada pelo alto clero (padres). Na missa, todos por meio dos sacramentos, especialmente na eucaristia1 “sentiam” a presença de Deus entre eles. Todos os cristãos que acreditam que realmente Deus habita no templo ou no momento do culto e que por causa disso Ele precisa receber oferendas (ofertas), músicas e danças (rituais) podem está na verdade recopiando a liturgia pagã de muitos povos da era medieval.
Mesmo depois de séculos, essa mentalidade da residência de Deus continua entre nós. É inevitável para qualquer cristão entrar num templo e não sentir uma espécie temor. Um exemplo disso é que nossa postura dentro de uma Igreja é totalmente diferente de outro ambiente. Parece que dentro de um templo, mudamos até de personalidade: “quem é extrovertido fora dele (templo), vira uma pessoa séria dentro dele; quem é soberbo, „vira‟ humilde; quem é ladrão ou traficante ou mulherengo ou pedófilo e etc, „vira‟ uma pessoa de bem; quem é fora dele profano, dentro dele vira santo”. E por aí vai, porque a lista tende a ser longa nessa simples comparação.
1 Eucaristia (ritual de comunhão). É o primeiro dos sacramentos católicos romanos e momento em que os fiéis participam de uma espécie de ceia onde todos os presentes comem uma hóstia de trigo com ou sem vinho, que de acordo com a crença; foram transubstanciados no próprio corpo e sangue de Cristo.
Na antiga Aliança encontra-se uma direção para a resolução dessa compreensão:
“Vai, e dize a meu servo Davi: Assim diz o Senhor: Edificar-me-ás tu uma casa para eu nela habitar? Porque em casa nenhuma habitei, desde o dia em que fiz subir do Egito os filhos de Israel até o dia de hoje, mas tenho andado em tenda e em tabernáculo. E em todo lugar em que tenho andado com todos os filhos de Israel, falei porventura, alguma palavra a qualquer das suas tribos a que mandei apascentar o meu povo de Israel, dizendo: por que não me edificais uma casa de cedro?” (II Sm 7: 5-7). “Quanto a esta casa que tu estás edificando, se andares nos meus estatutos, e executares os meus preceitos, e guardares todos os meus mandamentos, andando neles, confirmarei para contigo a minha palavra, que falei a Davi, teu pai; e habitarei no meio dos filhos de Israel, e não desampararei o meu povo de Israel” (I Rs 6:12-13). “Mas, na verdade, habitaria Deus na terra? Eis que o céu, e até o céu dos céus, não te podem conter; quanto menos esta casa que edifiquei!”(Êx 8:27).
Observa-se por meio desses versículos bíblicos as recomendações do Senhor sobre o templo. No texto do profeta Samuel, registra-se o período em que Davi estava estabelecendo seu reinado sobre todas as tribos dos reinos do norte (Israel) e sul (Judá) depois da trágica morte do rei Saul. Naquele contexto de “realização” pelo o trono unificado, Davi esboça seu desejo na construção de uma possível casa para seu Deus: “Eis que eu moro numa casa de cedro, enquanto que a arca de Deus dentro de uma tenda” (II Sm 7:2). Para Davi, o seu Deus estava em prejuízo, porque como que ele simples mortal poderia ter uma mansão enquanto que o grande Rei dos reis habitava em um simples tabernáculo? A intenção do jovem rei foi boa, porém a mentalidade do Senhor foi outra: “Edificar-me-ás tu uma casa para eu nela habitar?” (II Sm 7:5). Em outras palavras, Deus queria mostrar para Davi que Ele, o Eterno não “poderia” residir naquilo que é temporal (templo) e muito menos havia pedido a construção de um templo. Já no texto do primeiro livro dos reis de Israel, vemos outra explicação do Senhor sobre o templo que os homens criaram para Sua possível habitação. Nesse segundo contexto, o jovem rei Salomão estava em alta no trono hebreu e em paz. Para cumprir com um dos pedidos do seu falecido pai (Davi), Salomão construiu o templo e consagrou-o ao Senhor Jeová. Entretanto, tanto Salomão como o povo hebreu, recebeu do Criador uma condição: “se eles obedecessem ao Senhor, Ele estaria no „meio‟ do povo, mas; se eles desobedecessem, Ele não mais „estaria‟ entre eles” (I Rs 6:12-13). Isso não quer dizer, que nossas ações definem a aproximação Divina sobre nossas vidas, porque como diz Paulo, somos salvos pela graça de Deus e essa salvação não depende de nós, mas sim do amor incondicional de d‟Ele sobre nós, pecadores (Ef 2: 8-9). O fato era: Deus estaria entre o povo (templo) pela condição da obediência irrestrita, entretanto; sabemos que segundo aquele período (Lei) ninguém seria justificado, dessa feita; não haveria como o Santo Deus permanecer habitando naquele templo. Somente em Cristo é que o homem na sua individualidade teve a chance de ter reestabelecido seu relacionamento com o Criador (Gn 3:8; Lc 23:45-46). Esses dois textos citados anteriormente são fundamentais para a compreensão de um dos maiores alvos da redenção messiânica, que é o reestabelecimento do relacionamento do homem com
Deus. No primeiro (Gn 3:8), o homem havia perdido esse relacionamento por meio do pecado (desejo de ser como Deus: Gn 3:3-6), porém no segundo texto (Lc 23:45-46), vemos a nossa comunhão com o Criador sendo renovada por meio da Obra vicária de Jesus Cristo.
Deus não se encontra no templo. A questão não é tão complicada de ser compreendida, pois a moradia Divina não se restringe a nenhum lugar:
“Disse-lhe a mulher: vejo que és profeta. Nossos pais adoraram neste monte, e vós dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar. Disse-lhe Jesus: Mulher, crê-me, a hora vem, em que nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos; porque a salvação vem dos judeus. Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e é necessário que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade” (Jo 4:19-24).
Isso quer dizer que o Pai não reside em nenhum lugar restrito, contudo; aqueles que foram feitos Sua imagem e semelhança (Gn 1:27) conseguem adorá-Lo. Por sermos a imagem de Deus, podemos aproximar-nos d‟Ele em qualquer momento ou circunstância. Em outra parte da Bíblia, Paulo fala que o ser humano é a habitação Divina: “Não sabeis vós que sois santuário de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque sagrado é o santuário de Deus, que sois vós” (I Co 3:16-17).
Essa era uma exortação paulina quanto ao amadurecimento na fé dos cristãos de Corinto que viviam sob a influência carnal (inveja, partidarismo, imoralidade, injustiça e etc). Partindo dessa exortação, podemos entender que a presença de Deus está nas pessoas e sobre todo o lugar. Ele não é um ser estático como os deuses pagãos que “vivem” em seus templos, Ele é dinâmico e se relaciona com sua criatura que foi feita sua imagem.
Deus está na Ecclesia2! O Senhor da Bíblia é dinâmico, isto é; Ele é onipresente e está atuando em todo o universo. Além disso, vale ressaltar que Deus é atemporal e “habitou” em Cristo (Jo 10:30) na história. Partindo desse pressuposto, entraremos em um dos maiores mistérios das Escrituras Sagradas que é a habitação do grande Eu Sou em Jesus de Nazaré. Antes, o Senhor “habitou” no tabernáculo (Êx 29:45-46), depois no templo (I Rs 6:13), adiante encarnou-se em Jesus, o nazareno (Jo 10:30) e agora mediante sua maravilhosa graça, Ele habita em nós (Rm 8:11). Dessa feita, Deus se faz presente na vida das pessoas (Ecclesia). Entendendo melhor essa ideia, chegaremos à conclusão de que nosso desejo em agradar a Deus mediante o culto cristão (cânticos, ofertas e por aí...) não é suficiente. Por que se chegamos a conclusão de que Deus está nas pessoas, qual seria a maneira de o agradar? Talvez alguém respondesse: “ ué, cantando pro homem (a); dando oferta pra alguém; construindo um templo para o povo”. Entretanto, não é isso, Deus não se satisfaz com música, oferenda (oferta), sacrifício e etc; pois Ele não é como os deuses pagãos que são frutos da imaginação de algumas
2 A Eclésia (em grego: Εκκλησία, ekklesia) era a principal assembleia popular da democracia ateniense na Grécia Antiga. Ecclesia é uma palavra latina, que quer dizer "igreja", atualmente, mas que significou, originalmente, "curral" ou "abrigo de ovelhas". O conjunto dos cristãos que se reúnem regularmente em um local (templo) também é chamado de igreja.
pessoas. Nos folclores de várias culturas tribais no mundo, observam-se vários rituais de culto (cântico, oferenda, sacrifício) aos deuses. Porém, em Jesus Cristo vemos o que Deus espera dos Seus:
“Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados. Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça porque eles serão fartos. Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus. Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguiram e, mentindo, disserem todo mal contra vós por minha causa. Alegrai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram aos profetas que foram antes de vós. Vós sois o sal da terra; mas se o sal se tornar insípido, com que se há de restaurar-lhe o sabor? para nada mais presta, senão para ser lançado fora, e ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte; nem os que acendem uma candeia a colocam debaixo do alqueire, mas no velador, e assim ilumina a todos que estão na casa. Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus” (Mt 5:3-16).
Se entendemos que Deus não está no templo estrutural e sim na vida das simples pessoas, aprenderemos a adorá-Lo como lhe é devido, ajudando uns aos outros (Rm 12:10; Gl 5:13), amando uns aos outros como Ele nos amou (Jo 13:34). Como faremos isso? Doando-nos para o bem do próximo, ou seja; revertendo os efeitos da queda sobre os homens levando dignidade, respeito, valorização e salvação a todos que vivem aquém da graça oferecida gratuitamente por Jesus Cristo na cruz do Calvário. Lembremos que quando estivermos em contato com qualquer pessoa, é hora de adorar a Deus!
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