Muitas pessoas, de dentro e de fora da igreja cristã, acreditam que, numa sociedade moderna onde se privilegia a liberdade de escolha e a busca da felicidade, qualquer argumentação contra o divórcio é, no mínimo equivocada.
Muitos intérpretes da Bíblia acreditam que os textos bíblicos que apontam para uma objeção de Deus em relação ao divórcio são contextualmente equivocados e não servem mais para uma aplicação direta em nossos dias – tais como os textos que falam sobre restrições alimentares e similares.
Entretanto permitam-me, os que assim pensam, de discordar desta idéia.
Quando eu era adolescente e comungava em uma igreja de origem alemã e com forte influência do movimento pietista, o divórcio era visto com uma conotação sexual equivalente ao adultério, ou seja, as pessoas que se divorciavam ‘queriam’ experimentar novos parceiros sexuais – e isso era abominável! Portanto naquele contexto o divórcio era visto como moralmente degradante – ponto de vista do qual eu também discordo, haja visto que tenho amigos pessoais cristãos que são divorciados há mais de 15 anos e que não buscaram novas companheiras, muitos menos uma vida promíscua sexualmente – simplesmente mantém-se em abstinência!
Então qual o real significado do divórcio que leva Deus a afirmar que odeia o mesmo (Malaquias 2:13-16)? Ao longo de mais de 30 anos atendendo casais em meu consultório posso dizer que a essência de todo o divórcio está na INCAPACIDADE de amar o diferente.
Quando iniciamos um relacionamento afetivo, acreditamos – de forma imatura – que temos com o outro uma sintonia tão próxima que, mesmo os pequenos sinais de diferenças não nos incomodam, haja visto os enormes sinais de concordâncias. A proximidade de convivência e a rotina escancaram o quanto estávamos equivocados. O outro é SIM, muito diferente de mim em muitos aspectos: em seu ritmo, tempos, estilo de vida, projetos, gostos, interação social, etc.
Então caímos na ilusão que, com um pouco de esforço conseguiremos mudar o outro e ‘torná-lo à minha imagem e semelhança’, afinal se pensarmos de forma mais sintônica, tudo vai ficar maravilhoso. Passamos então a sermos educadores do outro, que teimosamente mostra-se um aprendiz ineficaz e não muda. A frustração da não mudança aumenta gerando irritação e os ‘padrões educacionais’ tornam-se mais violentos, com as solicitações se transformando em gritos, que levam a ressentimentos. Isso tudo colabora para que a sensação inicial imatura de que haveria uma sintonia total se dilua e se passa a acreditar que não somos mais compatíveis – precisamos buscar outra pessoa mais compatível para não arrastarmos ao longo da vida um relacionamento que nos fará infeliz. Aí surge o divórcio.
Não é esse uma metáfora de nosso relacionamento com Deus? Ele querendo nos ensinar a sermos cada vez mais à imagem e semelhança dele e nós obstinadamente seguimos com as nossas ‘verdades’? Todavia Deus JAMAIS desiste de nós, nem se altera quando não lhe damos ouvidos. Em última instância o casamento é a REAL aprendizagem do AMOR e quando nos negamos a esta aprendizagem, nos afastamos do Deus que é amor – e é isso que Ele odeia!
Deus não quer que transformemos o outro à nossa imagem e semelhança, mas que encontremos no outro a imagem de Deus que é multifacetária e que, justamente por isso, torna a humanidade tão rica em sua diversidade. Esse caminho é estreito e poucos são os que trilham por ele.