por Johnny Bernardo
Uberaba,
sexta-feira, 7 da noite. Sessenta carros – de jipe a Mercedes – estão
estacionados no quarteirão recém-asfaltado da Comunhão Espírita Cristã.
As chapas variam de Monte Castelo a Guanabara, de Itumbiara, de São
Paulo. O bairro é pobre, mal iluminado, cheio de crianças. Nesse bairro
fica hoje o “Vaticano do Espiritismo”. Umas mil pessoas aguardam com
ansiedade. Os que chegaram mais cedo conseguiram lugar no templo – um
salão de 100 metros quadrados – e estão sentados ou em pé (…). Há duas
filas que se confundem: uma para receber passes; outra de gente que
espera as receitas de Chico Xavier.
Com essas palavras
José Hamilton Ribeiro inicia sua narrativa sobre Chico Xavier, em
matéria escrita para a revista Realidade. Era 1971. Hamilton e seu
auxiliar chegam a Uberaba (MG) com o objetivo de entrevistar Chico
Xavier. Vinte e seis anos haviam passado desde que outro repórter, David
Nasser, da revista O Cruzeiro, visitara Chico e conseguira uma matéria
inédita. Anos depois a popularidade de Chico continuava em alta,
especialmente após sua participação [ao vivo e em cadeia nacional] do
programa Pinga-Fogo. Outra coisa que não mudara era o acesso a ele: cada
vez mais difícil e burocrático. Quem dava as cartas era Eurípedes dos
Reis, filho adotivo de Chico que cinco anos mais tarde conseguiria
procuração vitalícia do pai.
Com 61 anos e a
saúde debilitada, Chico diminuía aos poucos suas aparições. Hamilton
havia deixado a redação no Rio decidido a desmascarar o “médium”.
Dirigiu-se a Comunhão Espírita Cristã aonde constatou: tinha truque ali.
“Meu fotógrafo viu um dos assessores de Chico levantar o paletó
discretamente e borrifar perfume no ar. As pessoas pensavam que o
perfume vinha dos espíritos”, afirmou. A certeza de que o “médium” era
um impostor viria sete horas depois, quando Chico entrega ao repórter a
resposta de seu pedido em nome de Pedro Alcântara Rodrigues, Alameda
Barão de Limeira, 1327, ap. 82, São Paulo.
Na
letra inconfundível de psicografia, lá está: Junto dos amigos
espirituais que lhe prestam auxílio, buscaremos cooperar espiritualmente
em seu favor. O que pensar disso? Nem a pessoa com aquele nome, nem
mesmo esse endereço existem. Eu os inventei”, revela Hamilton ao
concluir a matéria. [1]
Em Chico Xavier
temos um misto de psicose, charlatanismo, criptomnésia que dão a ele e
aos seus seguidores pouca credibilidade. Na matéria a seguir abordaremos
estes e outros aspectos relacionados ao “médium”, focando nossa atenção
nos pós e contra – argumentos que giram em torno dele.
Chico Xavier: vida e mediunidade
Popularmente
conhecido como Chico Xavier, Francisco de Paula Cândido Xavier nasceu
em 2 de abril de 1910 na cidade mineira de Pedro Leopoldo. Órfão de mãe
aos cinco anos foi obrigado a viver com sua madrinha, pois seu pai não
podia cuidar de nove filhos. Sua infância foi turbulenta, devido aos
maus tratos de sua madrinha, que o surrava, segundo seu depoimento, três
vezes ao dia. Os maus tratos incluíam açoite com vara de marmelo [uma
parte do galho do marmeleiro utilizada para punir escravos e crianças
indisciplinadas] e garfadas na barriga. [2]
A
suposta “mediunidade” de Chico Xavier teria começado por essa época,
quando em meio às torturas praticadas por sua madrinha, dizia manter
contato com sua mãe que o visitava diariamente. Assim viveu por dois
anos, até que seu pai contraiu um novo matrimônio com Cidalia Batista, e
pode voltar ao lar paterno. De volta ao convívio familiar, as visões de
sua mãe cessam. O próximo “contato” mediúnico ocorreria alguns anos
depois, quando em uma aula do 4º ano primário “afirmou ter visto um
homem que lhe ditou as composições escolares”. [3]
Foi assim, entre
visões de espíritos e o sofrimento decorrente da perda de sua mãe, que
Chico cresceu até que um dia decidiu se dedicar de forma integral ao
espiritismo. Ele havia acabado de completar 17 anos quando sua madrasta
morreu e uma de suas irmãs iniciava um processo depressivo. Por
orientação de um amigo e após uma visão de sua mãe [que o aconselhou a
estudar os livros de Allan Kardec] foi que Chico mergulhou de vez no
universo espírita. Em junho de 1927 ajudou a fundar o Centro Espírita
Luiz Gonzaga e no mês seguinte começou o trabalho de psicografia.
Em 1931 ocorreria o
que os espíritas chamam de “maioridade de Chico Xavier”, quando o
médium realiza seu primeiro “contato” com Emmanuel. Com a ajuda de seu
mentor espiritual, e após algumas psicografias publicadas em periódicos
como O Jornal, do Rio de Janeiro, e Almanaque de Notícias de Portugal,
Chico decide se dedicar a um novo projeto que culminaria com a
publicação da obra “Parnaso Além-túmulo” [uma antologia de poemas
atribuída a poetas mortos, incluindo os brasileiros Casimiro de Abreu e
Olavo Bilac, além de quatro portugueses e um anônimo], em 1932.
Nos anos seguintes
publica “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho” (1938)
atribuída ao espírito de Humberto de Campos, ocasionando uma corrida
judicial por parte da viúva de Humberto que acusou o médium de violação
dos direitos autorais. Absolvido pela justiça, Chico substitui Humberto
de Campos pelo pseudônimo “Irmão X”. Cinco anos depois surge a obra
“Nosso Lar”, psicografia atribuída ao espírito André Luiz – pseudônimo
para o médico Oswaldo Cruz. Foi com “Nosso Lar” que Chico viu seu
prestígio crescer, transformando Pedro Leopoldo em um centro de
peregrinações.
O Cruzeiro
Na mesma época
desembarca em Minas David Nasser e o fotógrafo Jean Manzon da revista “O
Cruzeiro” com o objetivo de realizar uma entrevista com o médium.
Marcel Souto Maior relata.
Cansado de ser
alvo da desconfiança e da curiosidade dos repórteres, Chico tentou
escapar a todo custo, mas foi vencido por um artifício de Nasser. O
repórter enrolou a língua, começou a falar num francês arrastado e, com a
ajuda de seu partner estrangeiro, Jean Manzon, convenceu Chico de que
eles tinham vindo de muito longe, de Paris, só para entrevistá-lo. Não
poderiam voltar de mãos abanando…
Chico
decidiu dar a primeira entrevista internacional de sua e foi além.
“Reclamou do assédio da imprensa e dos visitantes – ou seja, jogou no
lixo a água da paz – e pousou para fotos nas situações mais
extravagantes. [4]
O Chico descrito
pelos espíritas e seus simpatizantes não parece ser o mesmo que a
História apresenta. A ideia de que ele não possuía formação acadêmica e
que, devido a isso, não tinha condições de fazer o que fazia não se
encaixa com a descrição que temos a partir de suas próprias declarações e
a de terceiros. Nasser revela que Chico lia com frequência jornais e
revistas. Ele também se refere a uma biblioteca pessoal e ao serviço
como datilógrafo em uma fazenda da região [vide tópico: autodidata].
Essas características e outras mais de Chico nos fazem acreditar que ele
era uma pessoa instruída, difícil de ser enganada por qualquer um.
Ubiratan Machado, em “Chico Xavier, uma vida de amor”, nos oferece uma
versão diferente da aceita pelos espíritas.
Já no Rio de
Janeiro, David Nasser, que não abrira o livro recebido do médium,
comentou com a esposa: ‘Ontem iludimos o Chico’. E narrou a astúcia
empregada. ‘Iludiram coisa nenhuma’ – respondeu a esposa. – ‘Olha aqui a
dedicatória’:
“Ao meu caro David Nasser, com o abraço do Chico Xavier”.
Desconcertado,
o repórter ligou para o colega que o acompanhava. O fotógrafo correu,
abriu o seu exemplar e lá encontrou a dedicatória: Ao meu caro Jean
Manzon…”. [5]
Temos aqui duas questões importantes (1) Foi Nasser quem descobrira o fato e o comunicara ao fotógrafo e; (2)
Teria sido Chico, e não Emmanuel, quem assinara a dedicatória. Mesmo
que Chico tivesse usado o pseudônimo de Emmanuel [o que na verdade o
era, dada todas as provas arroladas ao caso] para autografar o livro,
ele o fez em plena consciência – isso porque, durante as quase uma hora e
meia de entrevista, não houve qualquer manifestação mediúnica.
A convicção de que
Nasser ficaria surpreso ao notar que sua identidade havia sido
descoberta, poderia mudar os rumos da reportagem. A estratégia – Chico
descobriria mais tarde – não surtira o efeito desejado. A resposta viria
alguns dias depois: a revista “O Cruzeiro” publica uma matéria de dez
páginas com o título “Chico Xavier, detetive do além” usando como
ilustração uma foto do médium em uma banheira. Ao perceber que seu plano
havia dado errado, Chico desaba em choro. E tinha razões para tal. A
matéria cairia como uma luva nas mãos da família de Humberto de Campos,
obrigando o juiz a condenar Chico como impostor.
A confissão de Amauri Pena
Filho de Maria
Xavier, irmã mais velha de Chico Xavier, Amauri Pena nasceu em 1933, em
Pedro Leopoldo; um ano e seis meses depois muda com sua família para
Sabará (MG). Desde pequeno demonstrou interesse por literatura e aos dez
anos já havia lido a versão “psicografada” de Parnaso Além-túmulo, de
seu tio. Aos 13 começou a escrever poesias e despertou o interesse do
professor Rubens Costa Romanelli, líder de um grupo espírita mineiro.
Influenciado por Romanelli e pela aproximação com Chico Xavier, Amauri
produziu seu primeiro texto “psicografado” intitulado “Os Cruziladas” –
uma epopéia que descrevia o descobrimento do Brasil do ponto de vista
espiritual, e que teria sido “assinada” por Camões.
A capacidade
intelectual de Amauri, associada ao fato de ele ser sobrinho de Chico
Xavier, despertou interesses promíscuos e estratégicos da FEB através de
seus interlocutores mineiros da UEM, como Romanelli que a época era
secretário do jornal O Espírita. Trazer Amauri para o espiritismo seria
vital para a consolidação da doutrina no Brasil e no mundo. De um jovem
intelectual e com um futuro promissor, Amauri foi aos poucos seduzido
pelo espiritismo. Seu pai viu na proposta espírita uma oportunidade de
fugir à pobreza, que a época atingia boa parte dos moradores de Sabará.
Acuado, Amauri não viu alternativa a não ser se entregar aos interesses
da FEB. Algo, porém, incomodava o poeta sabarense. Veio à depressão e o
alcoolismo com suas consequências sociais. Sua família e especialmente
seu pai não entendia os motivos de tanto desanimo. Mas Amauri sabia o
porquê de sua degeneração. Em julho de 1958, então com 25 anos, procura a
redação do Diário de Minas com a intenção de desabafar. Frei Boaventura
descreve com fidelidade esse episódio.
Iam às coisas nas
mais risonhas esperanças. E eis que, num belo dia de 1958, Amauri Pena
procura a imprensa profana para fazer sensacionais declarações: “Tudo o
que tenho psicografado até hoje – declarou – apesar das diferenças de
estilo, foi criado por minha própria imaginação, sem que precisasse de
interferência de almas de outro mundo”. E explicava: “Depois de ter-me
submetido a esse papel mistificador, durante anos, usando apenas
conhecimentos literários, resolvi, por uma questão de consciência,
contar toda a verdade”.
E o sobrinho de
Chico Xavier esclareceu mais: “Sempre encontrei muita facilidade em
imitar estilos. Por isso os espíritas diziam que tudo quanto saía do meu
lápis eram mensagens ditadas pelos espíritos desencarnados.
Revoltava-me contra essas afirmativas, porque nada ouvia e sentia de
estranho, quando escrevia. Os espíritas, entretanto, procuravam
convencer-me de que era médium. Levado a meu tio, um dia, assegurou-me
ele, depois de ler o que eu escrevera, que deveria ser seu substituto.
Isso animou bastante os espíritas. Insistiam para que fosse médium”.
O
jovem e improvisado médium Amauri continua na descrição de sua estranha
aventura: “Passei a viver pressionado pelos adeptos da chamada terceira
revelação. A situação torturava-me e, várias vezes, procurando fugir
àquele inferno interior, entreguei-me a perigosas aventuras. Diversas
vezes, saí de casa, fugindo à convivência de espíritas. Cansado, enfim,
cedi, dando os primeiros passos no caminho da farsa constante. Teria 17
anos. Ainda assim, não me vi com forças para continuar o roteiro.
Perseguido pelo remorso e atormentado pelo desespero, cometi desatinos
(…) Não desmascaro meu tio como homem, mas como médium. Chico Xavier
ficou famoso pelo seu livro Parnaso de além túmulo. Tenho uma obra
idêntica e, para fazê-la, não recorri a nenhuma psicografia. [6]
Feita a confissão,
Amauri passa a ser alvo do descrédito do seu próprio pai e do delegado
de Sabará que o acusa de “desordeiro” e “beberrão”. Chico decide
permanecer neutro, deixando para outros a tarefa de desacreditar o
sobrinho se resguardando, ao mesmo tempo, de possíveis ônus da exposição
do menino e transmitir a sociedade uma imagem de benevolência e
capacidade de perdoar. Somente algum tempo depois, quando deixara Pedro
Leopoldo e criara raízes em Uberaba, Chico decide falar sobre o caso
seguindo a mesma linha defendida pelo pai de Amauri e o delegado de
Sabará.
Sem o apoio da
família, e ainda sofrendo as consequências do seu envolvimento com o
espiritismo, Amauri se entrega de vez ao alcoolismo e acaba por ser
internado em manicômio de São Paulo. Pelo menos essa é a versão oficial.
Se verdadeira a informação, em qual dos sanatórios de SP Amauri foi
internado? Procurada, a FEB não emitiu qualquer comunicado a respeito.
Qual o motivo do sigilo? Como até o começo dos anos 70 não havia em SP
clínica particular preparada para atender pacientes com deficiência
mental, Amauri somente poderia ter sido internado em um hospital
público, e, mesmo assim, como não havia o SUS as transferências eram
difíceis e exigia a participação de terceiros – políticos ou entidades
com alguma influência no governo – para se concretizar. Não seria esse o
caso da FEB?
Há também uma
informação desencontrada com relação à morte de Amauri. A história
oficial dá conta de que Amauri teria morrido em decorrência do
agravamento de sua saúde mental, enquanto se tratava em São Paulo. Mas
de acordo com o boletim espírita “Síntese”, de Belo Horizonte, publicado
à época, Amauri teria morrido vítima de um atropelamento. Tal versão
levanta a suspeita se, de fato, Amauri sofria de problemas mentais e que
em decorrência disso teria sido levado às pressas para um sanatório de
SP. Como não há indicações claras do local e data de internação, a
história oficial parece ter sido criada com o objetivo de abafar o caso
desqualificando o relato de Amauri.
O encontro com Waldo Viera
Abalado
pelo processo judicial movido pela família de Humberto de Campos e pela
denúncia de Amauri Pena, Chico se muda para Uberaba onde algum tempo
depois firmaria uma parceria com o médico e também médium Waldo Viera.
Essa parceria possibilitou que Chico levasse sua mensagem para outros
países, através de viagens realizadas a partir de maio de 1965 quando
desembarca nos EUA para uma série de compromissos. Com a ajuda de Salim
Salomão Haddad, presidente do centro Christian Spirit Center, e sua
esposa Phillis, estudou o inglês e lançou o livro “Ideal Espírita”, com o
nome de “The World of The Spirits”. [7]
Seis anos depois
de se afastar de Chico Xavier [eles mantiveram uma parceria por quase
dez anos, de 1955 a 1969] Waldo Viera abdica do espiritismo para se
dedicar à pesquisa da experiência fora-do-corpo. Depois de Amauri Pena,
que morrera em condições duvidosas, o testemunho de Viera é uma peça
importante na compreensão do Chico Xavier histórico. Diretor do Centro
de Altos Estudos da Conscienciologia (CEAEC) e autor da Enciclopédia da
Conscienciologia, Waldo Viera revelou, em dois vídeos divulgados pela
Internet, aspectos da vida e obra de Chico Xavier desconhecidos do
público em geral, como o uso de frascos de perfume comprados por Chico
em São Paulo e que eram usados em incorporações do espírito de Sheila.
Pontos fundamentais
Há uma diferença entre o Chico da história daquele apresentado pela mídia secular e pela FEB. Vejamos alguns casos.
Psicose
Há algum tempo se
cogita o fato de Chico ter sofrido de psicose nos primeiros anos de sua
infância e início da fase adulta. Psicose é um quadro psicopatológico
reconhecido pela psiquiatria como um estado psíquico no qual se verifica
certa perda de contato com a realidade, caracterizada por delírios e
alucinações. A Superinteressante menciona um eletroencefalograma do
médium adquirido pela revista Realidade nos anos 70 e que foi usado como
ilustração da matéria de capa sobre Chico Xavier.
Nos anos 70, a
revista Realidade publicou a cópia de um eletroencefalograma do cérebro
de Chico Xavier. Sem saber o nome do paciente, um médico analisou o
exame e concluiu: havia ali uma descarga elétrica anormal, capaz de
provocar uma convulsão. “Poderia causar alheamento, sensação de
ausência, automatismo psicomotor”, afirmava o médico Juvenal Guedes.
Tal explicaria as
primeiras visões de Chico e o sentimento depressivo que o acompanhou
durante toda a sua vida e o uso de LSD em certa ocasião. A psicose ou
mesmo a esquizofrenia possui inúmeros fatores psicopatológicos,
incluindo desde a questão genética (hereditária) até o convívio familiar
e social em que o indivíduo é criado. A primeira visão que Chico teve
de sua mãe teria ocorrido justamente em um período de falta de convívio
familiar e dor decorrente das punições impostas pela madrinha. Ao
retornar ao lar paterno e a convivência com os irmãos, as visões da mãe
cessam. Somente no quarto ano do ensino primário, quando as
características sexuais de Chico começam a ser percebidas pelos amigos
de sala, Chico é novamente submetido ao isolamento social. Nesse
contexto, Chico recorre ao além. Afirma ser guiado por um espírito de um
homem que o auxilia em suas redações, aparecendo em meio às aulas.
Criptomnésia
Também se acredita
que Chico sofria de criptomnésia. Essa possibilidade foi levantada pela
revista Super Interessante, em edição especial sobre o médium.
“Criptomnésia é um distúrbio de memória que faz com que as pessoas se
esqueçam de que conhecem uma determinada informação. Os dados que Chico
colocava nas cartas seriam apenas lembranças escondidas em seu próprio
subconsciente”, afirma a revista.
Usada pela
primeira vez pelo psiquiatra Théodore Flournoy ao analisar o caso da
médium Hélène Smith (Catherine Élise-Müller), a criptomnésia é mais
provável de ocorrer quando a capacidade de controlar as inúmeras fontes
que um indivíduo tem acesso é prejudicada. Carl Jung, em O Homem e Seus
Símbolos exemplifica:
Um autor pode
estar escrevendo de forma constante a um plano preconcebido, elaborando
um argumento ou desenvolvendo a linha de uma história, quando de repente
ele sai pela tangente. Talvez uma nova ideia lhe ocorreu, ou uma imagem
diferente, ou todo um novo sub-enredo. Se você perguntar a ele o que
levou a digressão, ele não será capaz de lhe dizer. Ele não pode sequer
ter notado a mudança, embora ele já produziu material que é inteiramente
novo e, aparentemente, desconhecido para ele antes Mas às vezes pode
ser demonstrado de forma convincente que o que ele escreveu tem uma
impressionante semelhança com o trabalho de outro autor – um trabalho
que ele acredita que nunca viu.
Em um estudo
publicado em 1905, Jung associa a Criptomnésia ao trabalho de alguns
autores, como Nietzsche (cujo livro “Assim Falou Zaratustra” seria uma
imitação quase que palavra por palavra de outro livro publicado meio
século antes. A irmã de Nietzsche confirmou que aos onze anos seu irmão
teve acesso ao livro e que ele o lia constantemente) e Byron (cujos
leitores viam uma forte semelhança entre seu livro “Manfred” com
“Fausto” de Johann von Goethe).
Autodidata
O quarto ano do
ensino primário marca o começo do intelectualismo de Chico Xavier.
Apesar das acusações de plágio e o descrédito por parte de professores e
alunos, ganha uma menção honrosa num concurso estadual de redação. Tal
capacidade intelectual não se devia a influência do além, mas a sua
busca insaciável por conhecimento. Começando por poesia, o menino de
Pedro Leopoldo se lança à busca do conhecimento filosófico, histórico e
linguístico. Em sua biblioteca, preservada até hoje em Uberaba, há mais
de 500 livros e revistas, com obras em inglês, francês e até hebraico.
Parte dessa biblioteca é descrita por David Nasser em sua matéria “Chico
Xavier, um detetive do além”.
Numa estante, os
livros de Chico. Versos de Guerra Junqueiro, Tolstoi e uma porção de
autores mortos. Na sala do lado está a mesa onde ele recebe as mensagens
(…) Vamos atravessando a sala e entramos num dos quartos. Na parede,
prateleiras repletas de livros. Remédios à base de homeopatia, que Chico
recomenda. Não sei porque os espíritos manifestam estranha aversão pela
alopatia e suas drogas, receitando sempre combinações homeopáticas.
Perto dos vidros, um armário cheio de livros. As obras de guerra contra a
Santa Sé, assinadas por Guerra Junqueiro, ainda em vida. Os livros de
Flammarion e de Alan Kardec, mas não os psicografados, misturados com
volumes de propaganda anticlerical.
Na
visita à Fazenda em que Chico trabalhava como datilógrafo, Nasser
conhece um senhor do Rio de Janeiro que descreve Chico nos seguintes
termos: “Gosto de falar com ele. É um rapaz de cultura. Discute vários
assuntos, lê um pouco de inglês e de francês. Devora os livros com
fúria. Trouxe-lhe, há dias, “O homem, esse desconhecido” e ele não
gastou mais de quatro horas e meia para ler o volume gordo. É um prazer
para ele. Seu único amor é o espiritismo”. [8]
Na
matéria de 1971, Hamilton Ribeiro revela: “A sala, que serve de
escritório, é o ambiente típico do intelectual desorganizado. Mesa,
máquina de escrever, papéis em desordem, vidros de remédios, revistas
estrangeiras, livros, jornais, uma infinidade de cartas, papeis com
endereços, cartões, lápis. Numa estante arquivo, Chico guarda documentos
e papéis que, um dia, sabe que vai precisar. Quando esse dia chega, ele
procura – e não acha.” [9]
Frei Boaventura
Kloppenburg, em sua obra Espiritismo, orientação para católicos, vai
mais além. “No prefácio de sua primeira obra psicografada, Parnaso de
Além-Túmulo, o próprio Chico se apresenta como um moço com “o mais
pronunciado pendor para a literatura”, com “a melhor boa vontade para o
estudo”, que em casa “estudou o que pôde”. O Jornal das moças de 1931
publicava sonetos seus. Um amigo de Belo Horizonte, que o conheceu
naqueles anos, deu-me estas informações:
- Conheci o
Francisco Xavier em 1933. Nessa época ele ainda trabalhava numa pequena
casa de comércio, em Pedro Leopoldo. Na ocasião, em julho de 33, salvo
engano, ele me deu para ler um álbum de poesias dele. Eram poemas,
sonetos, quase todos melhores do que a imitação de Guerra Junqueiro que
publicou no Parnaso de além túmulo. Foi por intermédio de Francisco
Xavier que conheci Augusto dos Anjos. Ele declamava grande parte do Eu.
Lera tanto Augusto dos Anjos que o sabia de cor. Ainda me lembro muito
de ouvi-lo declamar com entusiasmo o ‘Árvore da serra’. Em 1933 ele
estava encantado com Augusto dos Anjos. Já por essa época ele lia o
espanhol e o francês: assim me disse várias vezes. Conhecia bem a
literatura brasileira e lia muito.” [10]
Direitos autorais
Podemos tomar como
verdadeira a informação de que Chico doava todos os recursos
provenientes do seu trabalho de psicografia? Eurípedes dos Reis coloca
essa informação em xeque quando, em fevereiro de 2001, apresenta queixa
policial contra sua esposa por estelionato e traição conjugal. Na
matéria “Casa de Guerra, filho adotivo e nora de Chico Xavier brigam por
dinheiro”, publicada pela Veja, o jornalista José Edward traz detalhes
surpreendentes do caso.
O
casal vem administrando todos os negócios de Chico Xavier. Eurípedes tem
procuração vitalícia do pai desde 1976 e Christine cuidava havia oito
anos das doações e da renda obtida com a venda de suvenires com a imagem
do médium. Ela movimentava cinco contas bancárias, incluindo a da
empresa Shulz e Reis, criada para a venda dos livros psicografados por
Chico Xavier. [11]
Para além do
episódio, temos um dado importante de que os recursos não seguiam
exatamente o caminho apontado por Chico Xavier. Marcel Souto Maior
menciona outro caso ocorrido em 1964.
Em
junho de 1964, Chico, com o aval de Emmanuel e com o apoio de Waldo
Vieira, decidiu ceder à Comunhão Espírita Cristã os direitos de livros
escritos por ele e seu parceiro. Pela primeira vez, ele seria
beneficiado, embora indiretamente. O centro, cada vez maior, contraía
dívidas e já não podia contar apenas com a ajuda esporádica e voluntária
de amigos ricos e de gente grata a Chico Xavier. [12]
Emmanuel
A relação de Chico
com Emmanuel se desenvolve a partir de seu contato com os escritos de
Allan Kardec. Seria coincidência o fato de que no capítulo 11 do
Evangelho Segundo o Espiritismo um espírito que se identifica como
“Emmanuel” assina uma mensagem ditada em 1861, em Paris, intitulada “O
Egoísmo”? Quando indagado se Emmanuel era o mesmo espírito que assinou
esta mensagem, o médium Francisco Cândido Xavier afirmou:
Creio que sim.
Conservo para mim a certeza de que ele, Emmanuel, terá participado da
equipe que colaborou na estrutura da codificação da Doutrina Espírita. A
mensagem intitulada ‘O Egoísmo’, (…) em que se faz referência a
Pilatos, é de autoria do nosso benfeitor espiritual, não tenho dúvidas a
este respeito.
Nada mais lógico e
estratégico: associar sua imagem a um espírito que teria “participado”
da codificação do espiritismo seria vital para o trabalho que ele
pretendia desenvolver a nível nacional e internacional. Ainda mais
quando sabemos que Chico se dizia a “reencarnação” de Allan Kardec.
Assim somos impelidos a acreditar que a visão de 1931, que estabelece um
suposto “contato” de Chico com Emmanuel, não possue fundamento
histórico.
Há também que se considerar duas outras questões (1) Seria
Emmanuel uma figura histórica verdadeira, que viveu na época de Jesus,
ou, como supõem os especialistas em Cristianismo Primitivo, um mito ou
ficção criado pelo Kardecismo para dar base aos seus argumentos? A
segunda alternativa é a de maior peso porque não há registro histórico
da existência de um senador romano chamado Emmanuel ou mesmo Publius
Lentulus. A conclusão é de que se trata de um personagem fictício. Essa é
a opinião do Dr. Edgar J. Goodspeed, em especial quando analisa uma
carta atribuída a Publius Lentulus em que descreve Jesus; (2) Há
um problema relacionado à integridade moral de Emmanuel. Mesmo
aceitando que Emmanuel era um personagem real, que conduzia Chico em seu
trabalho de psicografia, como entender certos conselhos dados pelo
espírito ao médium? Um exemplo é o citado pela Folha.com em uma análise
da obra “As Vidas de Chico Xavier”.
Segundo o livro
“As Vidas de Chico Xavier” (Planeta, 2003), escrito pelo jornalista
Marcel Souto Maior, o médium mineiro (1910-2002) decidiu experimentar
ácido lisérgico e recebeu apoio de Emmanuel, seu guia espiritual. Essa
particularidade de sua biografia não aparece no filme.
A
escolha de provar a droga tinha um sentido: Chico se sentia extremamente
pessimista e deprimido. Ele acreditava atrair espíritos inferiores que
provocavam diversos males aos seus familiares e amigos. Sua companhia
acarretava em sofrimento para os outros. [13]
Que
tipo de espírito induziria alguém a se drogar? Essa é a pergunta que se
faz com relação ao episódio relatado por Marcel Souto Maior em sua
análise da vida de Chico Xavier. Ácido lisérgico é o composto para o
alucinógeno conhecido como LSD, droga popular nas décadas de 50 e 60 e
que foi desenvolvido em 1938 pelo químico suíço Dr. Albert Hofmann.
Segundo um verbete da Wikipédia, Timothy Leary, ex-professor em Harvard,
após descobrir a droga, tornou-se um incentivador do seu uso massivo
para fins terapêuticos, espirituais e recreativos, sendo preso nos
Estados Unidos em 1972 e solto em seguida. [14]
Zélia Gama
O ato de levar a
mão esquerda ao rosto e com a direita proceder com a psicografia era uma
prática de outra médium mineira que também se dizia portadora de dons
mediúnicos. Zilda Gama (1869 – 1969) teve uma trajetória semelhante à
de Chico, com perda dos pais aos 24 anos, erudição e psicografias.
Psicografia: plágio ou mediunidade?
Psicografia,
segundo o Espiritismo, é a capacidade de um médium transmitir mensagens
ditadas ou redigidas por espíritos. Ela tanto pode ser intuitiva (o
médium recebe as mensagens por meio da ação de um espírito em sua
intuição, sem a necessidade de que este deixe o seu corpo),
semi-mecânica (o médium possue o controle de sua mão, escrevendo sob
impulso de um espírito) e mecânica (caso considerado raro no espiritismo
em que um médium perde por completo o controle sobre seu corpo,
permitindo que um espírito utilize suas faculdades mentais e motoras
para trazer determinado conhecimento espiritual).
A psicografia de
Chico Xavier seria mecânica, no sentido de que os espíritos [e
especialmente Emmanuel] atuavam diretamente sobre seu corpo. Sendo de
autoria espiritual, o médium fica livre de qualquer pré-julgamento
decorrente de erros produzidos por esses espíritos. O que não ocorre na
intuitiva ou mesmo na semi-mecânica. Primeiro, poderíamos aceitar como
verdadeira a hipótese espírita não fosse o fato de que Chico possuía
condições necessárias para produzir textos poéticos ou mesmo de conteúdo
histórico ou filósofo [e em outros idiomas, como francês, inglês e
espanhol] além das psicografias de caráter pessoal – àquelas dirigidas a
familiares que recorriam ao médium em busca de respostas. Segundo, como
explicar o fato de que as cartas “psicografadas” por Chico possuem
semelhança de vocabulário, estilo e uso excessivo de metáforas?
Terceiro, se Emmanuel e os demais espíritos a que Chico tinha acesso
eram “espiritualmente confiáveis”, por que erros grosseiros como a ideia
de que o sol, marte e júpiter possuem vida e que Marte não possue
satélite natural, senão vermos isso como interferência do médium na
escrita?
Há outras questões
que, analisadas do ponto de vista histórico, cientifico e literário,
lançam mais dúvidas do que certeza nas psicografias de Chico Xavier.
Elas representam a opinião e o conhecimento do autor [e não autores] que
ao longo da vida recorreu às mais diversas fontes para produzir seus
textos, como recortes de jornais e revistas de conteúdo poético que ele
anexava a um caderno e da ajuda de auxiliares que recolhiam dados como
nome, nascimento, cor, raça, doença, relacionamentos dos mortos a serem
consultados. Em palestra no CEAEC, Waldo Viera reconheceu que
“funcionários do centro espírita iam à fila pegar detalhes dos mortos”.
Em outra ocasião, declarou:
A
mesma coisa é aquelas mensagens que Chico recebia. Você sabe que essas
mensagens psicografadas da pessoa que morreu, eles mandam uma carta com
detalhes para a pessoa colocar na mensagem psicografada. Existem médiuns
recebendo essas cartas até hoje. Quando eu deixei o movimento espírita,
eles me mandaram essas cartas para mim para eu receber mensagens para a
pessoa. Eu queimei as cartas só para não envolver ninguém. Então eles
mandavam, ó, o apelido dele é esse, a tia que ele gosta é essa, a
madrinha dele, a dindinha é fulana ele mora assim, assim. Só para haver
uma relação. O avô que ele gostava muito morreu no ano tal… eles
mandavam essas cartas com tudo mastigado para você colocar… tudo é carta
marcada, um jogo de carta marcada (sic). [15]
O testemunho de
Waldo vai de encontro a uma declaração da Associação Médico – Espírita
de São Paulo que em pesquisa revelou que Chico fazia uma entrevista [de
cerca de dez minutos] com famílias que participariam das sessões. Como
exemplo temos o caso de um homem que na década de 70 morreu vítima de um
atropelamento. O engenheiro Maurício Lopes, de 38 anos e irmão da
vítima, disse a Super que “Chico perguntou a minha mãe detalhes da morte
e nome de parentes. E tudo foi citado na carta depois”, conclui.
Procurado pela redação, o filho adotivo de Xavier negou a denúncia.
Hamilton Ribeiro
provou, já nos anos 70, que as psicografias de Chico não provinham de
nenhuma outra fonte que não fosse sua própria imaginação e cita um dos
seus métodos “Chico está com a mão sobre os olhos. Mal ouve o fim da
leitura. Levanta-se, recebe um pacote de folhas de papel e se encaminha
para a porta por onde entrou. Ali, numa salinha, ajudado por dois
assistentes – o Sr. Weaker e sua mulher, dona Isildinha, vai receber
orientação dos espíritos para psicografar receitas e conselhos.”
Confinado à salinha, de lá libera as remessas de receitas psicografadas.
Onze
horas da noite na Comunhão Espírita de Uberaba. Seu Weaker abre a porta
da salinha onde está Chico e libará a segunda remessa de receitas
psicografadas. Há o burburinho geral e todos se dirigem para o pátio,
aguardando a chamada. Um dos primeiros nomes anunciados é um dos meus,
aquele que encaminhei a pedido de uma amiga que sofre de alergia. Corro
ansioso para ver que tipo de remédio os espíritos recomendam para
coceira, e me, decepciono um pouco. Não é uma receita, são apenas
conselhos – o que se chama de “orientação espiritual”. A mensagem lá
está, na letra corrida e larga da psicografia: “Dentro de todos os
recursos ao nosso alcance, buscaremos cooperar espiritualmente em seu
favor. Confiemos na bênção de Jesus”. [16]
Ao
chegar sua vez, Hamilton é surpreendido ao receber uma receita
psicografada em nome de uma pessoa que não existia “O que pensar disso?
Nem a pessoa com aquele nome, nem mesmo esse endereço existem. Eu os
inventei”, declara. Oito anos depois seria a vez de Sônia Muszkat fazer
seu relato “Eu estava prestes a enlouquecer quando a primeira carta
chegou. Já havia pedido para ser internada”, diz a paulista Sônia
Muszkat. Foi em 1979 que Sônia recebeu essa mensagem do filho Roberto,
morto aos 19 anos com um choque anafilático após uma cirurgia de desvio
de septo. “Na carta, Roberto descrevia sua morte e pedia que eu não me
culpasse, afirma Sônia. Ela receberia outros 53 textos psicografados por
Chico. Alguns vinham com frases em hebraico – Sônia e o marido são
judeus. Roberto não falava o idioma, mas Chico dizia ao casal que ele
estava aprendendo em uma colônia judaica no mundo espiritual”. [17]
Casos como o
relatado por Hamilton e a do filho de Sônia que não falava hebraico
provam que Chico Xavier era um farsante, que suas psicografias provinham
de sua própria imaginação (consciente ou inconscientemente) e que
milhares de pessoas estão enganadas ao segui-lo. O trabalho social
praticado por ele e mantido por seus seguidores em nada justifica seus
erros, embora sacie a fome de muitas famílias. Verdades à parte!
Notas
1.RIBEIRO, J. H, Chico Xavier, Realidade, 1971, versão em PDF
2.Chico Xavier, Wikipédia
3.Ibidem
4.MAIOR, M.S As Lições de Chico Xavier, São Paulo – SP. Planeta, pág. 43, 1º ed. 2006,
5.KLOPPENBURG, F.B. Espiritismo, orientação para católicos, 2002, 7º ed. Versão em PDF
6.NASSER, D. Chico Xavier, o detetive do além, O Cruzeiro, 1944
7.Chico Xavier, Wikipédia
8.RIBEIRO, J. H, Chico Xavier, Realidade, 1971
9.KLOPPENBURG, F.B. Espiritismo, orientação para católicos, 2002, 7º ed.Versão em PDF
10.EDWARD, J. Casa de Guerra, Veja, 2001
11.MAIOR, M.S As Lições de Chico Xavier, São Paulo – SP. Planeta, pág. 100, 1º ed. 2006,
12.Chico Xavier, Wikipédia
13.Chico Xavier experimentou alucinógeno auxiliado por espírito, dia livro, Folha.com, 2010
14.Timothy Leary, Wikipédia
15.VIERA, W. Tertúlia, Yotube
16.RIBEIRO, J. H, Chico Xavier, Realidade, 1971, versão em PDF
17.SAMANTTA, H e BLANCO, G. Chico Xavier, uma investigação, Super Interessante, versão disponível online