segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Refletindo sobre a questão do talento




            Clarice Lispector disse que “vocação é diferente de talento. Pode-se ter vocação e não ter talento, isto é, pode-se ser chamado e não saber como ir”. É difícil definir o talento. Alguém disse que “talento é escrever com a mão certa”. O problema é que vivemos no mundo da mentira técnica, o fazer sem ser, a profissionalização do banal, o que faz com que, como diziam os antigos,“em terra de urubu diplomado, sabiá não cante”. Tem gente escrevendo com a mão errada...

            Vamos refletir sobre algumas características fundamentais do talento:

            Talento diferencia. Compor uma música incrível e outra não, é fruto do talento. Pintar uma tela é diferente de gerar uma obra de arte. O talento faz a distinção entre a pintura sem arte e a arte de pintar. Dois atores podem decorar as mesmas falas, mas apenas o talentoso faz a plateia se emocionar. Dois humoristas podem contar a mesma anedota, contudo, somente o talentoso é capaz de reinventar o mesmo riso.

            Talento incomoda. Giovanni Papini disse que “a inveja é a sombra obrigatória de todo gênio e de toda glória”. Se você possui algum talento, prepare-se para o confronto. A mediocridade é uma enfermidade da alma que atinge muita gente. Não são poucos os que estão com os olhos irritados diante do brilho que o talento tem. Provérbios 14.30 define a inveja como “a podridão dos ossos”.

            Talento atrofia. É preciso investimento. A tragédia de muitos talentosos ao longo da história foi sua acomodação. Guimarães Rosa disse que “o animal satisfeito, dorme”. É famosa a frase de Thomas Edison:“Talento é 1% inspiração e 99% transpiração”. Se não há investimento, preparação, crescimento, foco, disciplina, fatalmente haverá atrofia, retardo, perda de qualidade. É desperdício ter talento, mas não ter vontade.

            Talento exige cautela. É ferramenta. Não basta ser talentoso, é preciso ter caráter. Carisma sem caráter é mortal. A Bíblia conta a história de Sansão (Juízes 13-16), um homem talentoso, carismático, mas que não sabia dominar instintos e paixões. Ao invés de usar seu talento para livrar Israel dos filisteus, usou-o para conquistar filisteias! Focalizou o alvo enganoso. Usou a ferramenta certa no trabalho errado. Foi seduzido pela cultura, feriu-se na arma que usava. Terminou sua vida fazendo palhaçadas para divertimento dos filisteus (Jz. 16.25). Talentosos também pecam.

            Talento tem limite. Um talento é resultado de uma série de fatores como genética ou treinamento, enquanto que um dom espiritual é o resultado do poder do Espírito Santo. É bom lembrar que qualquer pessoa, cristã ou não, pode possuir um talento, mas apenas os cristãos possuem dons espirituais. Embora ambos, talentos e dons espirituais, devam ser usados para a glória de Deus e para edificação mútua, os dons espirituais possuem somente esse foco, enquanto que os talentos podem ser usados para objetivos não espirituais. Talento tem limite, enquanto os dons são potencialidades espirituais que nos capacitam a realizar obras que o talento não faz.
            
              Até mais...
              Alan Brizotti

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