domingo, 1 de abril de 2012

“Eu não quero ir para o céu” por Régis de Souza



Essa foi à resposta que um rapaz de 21 anos deu para uma  repórter de um programa de TV gospel, que tinha uma programação ao vivo na Praça Sete de Setembro em Belo Horizonte. Era para ser mais um programa rotineiro de TV de uma igreja evangélica da capital mineira, mas a tal resposta do rapaz havia pegado todos de surpresa.


A programação daquela TV (Reflexão Jovem) sempre passava aos sábados às 16 horas e possuia muitos telespectadores. Era um espaço onde se discutia vários assuntos do cotidiano gospel, como: missiologia, teologia, psicologia, sociologia, escatologia e etc. Naquele dia, por exemplo, a discussão era sobre a segunda vinda de Cristo e muitos telespectadores estavam enviando suas perguntas. Na ocasião, tinha um teólogo abordando sobre algumas teorias escatológicas, como: dispensacionalismo, pré-milenismo pré-tribulacionista, pré-milenismo pós-tribulacionista, amilenismo e etc).


A programação estava “bombando” em audiência. A equipe de rua estava no centro de Belo Horizonte, abordando as pessoas sobre o assunto. Muitos ouvintes e telespectadores participavam enviando suas perguntas e opiniões sobre o assunto, até que um imprevisto aconteceu quando um rapaz gótico foi questionado pela repórter a respeito do fim dos tempos e o que ele achava do céu, lugar onde iria morar os filhos de Deus. Sendo assim, o jovem opinouEu não quero ir para o céu”! A repórter meio que querendo corrigi-lo, fez outra pergunta: “como assim, você não quer ir para o paraíso”? O rapaz então comentou sua resposta anterior: “Olha, quem vai gostar de ir para um lugar repleto de ‘gente’ falsa, de religiosos caretas, de ‘gente’ que se acham  dignas e  donos da verdade, de ‘pessoas’ que vivem apontando o dedo para os outros, de ‘gente’ cantando por quase  todo o dia  músicas religiosas e acima de tudo; de ‘gente’ moralista até o pescoço”? “Porque você acha que um jovem como eu, desejaria ir para um lugar desses”?


A resposta do gótico soou como uma afronta para o público evangélico que participava do programa. Muitos o reprovaram dizendo: “Isso é uma blasfêmia, como pode alguém falar do santo lugar"? Já outros o intitularam como ignorante e herege. Entretanto, o apresentador encerrou os comentários ressaltando que todos tinham liberdade de expressão, porque até Cristo foi confrontado com questões complicadas, porém respondeu todas elas pacientemente, de forma simples e clara (Mt 9:14; Mt 16:1). Posteriormente, o apresentador concluiu a discussão colocando outra questão: até que ponto transmitimos uma boa interpretação do céu para as pessoas não cristãs”?

Bom, a resposta daquele rapaz me fez relembrar dos vários ensinamentos sobre o fim dos tempos que já tive. Lembro-me de aos oito anos ficar “apavorado" com os áudios dos discos de vinil que falavam sobre o arrebatamento e juízo final. Da mesma forma, recordo-me dos vários ensinamentos que tive sobre o céu e a nova pátria celestial. Desde cedo me falaram que no céu, experimentaríamos do melhor da vida, como por exemplo:
  • “tempo de sobra para adorarmos o Criador com cânticos: (Santo, Santo, Santo...)";
  • “moradias luxuosas para todos os moradores, afinal; todos seriam príncipes naquele reinado sem fim;”
  • “viveríamos em companhia de animais domesticados  e assim, os temíveis: leão, tigre, pantera, urso e etc; seriam nossos bichinhos de estimação;”
  • “teríamos coroas repletas de pedras preciosas (para o que serviria, nunca me explicaram);”
  • “os habitantes dessa nova pátria teriam segurança total (boa!), devido todos os ladrões terem sido jogados nos calabouços de uma prisão eterna nos moldes arrepiantes da lendária Alcatraz;”
  • “e que nesse novo lar, seríamos anjos, dessa feita; poderíamos voar para todo o lugar, porque o universo (vichi...) seria o nosso limite!”;
  • “andaríamos em estradas chiques, ou melhor, de ouro puro;”
  • “o lazer de todos seria em lagos maravilhosos e com águas cristalinas;”
  • “viveríamos sempre na moda, ou seja, só na grife celestial, cada um vestiria mais fashion que o outro, devido estarmos na presença do Rei, então; todos deviam está bonitinhos para sair na filmagem;”
  • “e, sobretudo; teria culto toda hora e o melhor, o louvorzão seria por conta dos anjos (mais serviço para os servos)”. Bom, vamos parar por aqui porque a lista tende a ser mais longa.



Parece que para cada igreja e cada cristão, existe um tipo de céu. Uns imaginam que será um lugar de galardões (recompensa justa para o esforço humano), um lugar onde não haverá trabalho (moradia dos preguiçosos?) e um lugar onde os fiéis seriam servidos pelos os anjos. Outros acham que lá terá uma espécie de gabinete pastoral, onde Deus ficará por muito tempo (prestando contas) respondendo todos os mistérios. Já uma minoria imagina que só de estar por lá, será o bastante.  Uma coisa nunca ficou clara: “se todos os religiosos querem ir para o céu, porque então muitos têm pavor da morte? Ela não é o ‘passaporte’ final para o céu”? Pois é, nunca entendi isso, porque até o mais fervoroso cristão, treme nas bases quando pressente que irá morrer. Mas surge-me outra dúvida: “será se realmente, desejamos nos despedir mesmo desse mundo caído (impuro, mau, humilhante...) para ir para o céu”?


Se Deus fizesse a seguinte pergunta: “quem quiser ir para o céu agora, enviarei a morte para buscá-lo; será se alguém aceitaria”? Mas, e se Ele fizesse outra pergunta: “como a segunda vida do meu filho Jesus, ainda vai demorar mais uns mil anos, permitirei que quem quiser, poderá viver por mais tempo nesse mundo caído. Será se alguém aceitaria?


Do jeito que “temos” pavor da morte e do desconhecido (céu), acho que a maioria ficaria com segunda opção. Parece que na prática,  preferimos permanecer por mais tempo por aqui do que  irmos embora dessa terra. Se isso não fosse verdade, as indústrias farmacêuticas não faturariam tanto; as igrejas neopentecostais não estariam repletas de gente interessada em um antídoto para frear alguma doença e talvez até obter a cura; as academias não estariam lotadas de crentes escravos de uma estética narcisista  e  as igrejas  não estariam abarrotadas de gente egocêntrica que só visam o seu próprio "milagre". Subtende-se então que intenção de alguns cristãos contemporâneos  está no  prolongamento de seus dias por mais tempo nesse mundo caído. Se de fato somos pessoas que experimentam das influências do reino messiânico que foi implantado, poderíamos orar mais parecidamente como Ele: “Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu;...” (Mt 6:10).


Para o apóstolo gentílico, a morte deveria ser considerada como normal devido ser a maneira natural de adentrarmos para a eternidade. Ainda segundo ele, não existe mais nenhum pavor para quem foi adotado pelo o Pai, porque todas as armas da morte, já foram neutralizadas pelo sacrifício do Primogênito de Deus: “Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória?” (1 Cor 15:55). Em um determinado momento quando ele foi advertido pelos os fiéis da época sobre o caminho que podia levá-lo para o encontro da morte, ele fez questão de esclarecer: “...Que fazeis vós, chorando e magoando-me o coração? Porque eu estou pronto não só a ser preso, mas ainda a morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus” (At 21: 13). Em uma outra ocasião, o mesmo apóstolo, aconselhou os pecadores do Caminho a colocarem suas “esperanças na outra vida” que estava por vir e não nessa que é passageira: “Se é só para esta vida que esperamos em Cristo, somos os mais infelizes de todos os homens” (ICor 15:19).


Mediante isso, que possamos esperar pacientemente essa aguardada vinda (parousia) do Primogênito do Pai que está por vir. Para muitos, Ele já está “vindo” por meio do findar do fôlego de vida; já para nós que estamos vivos, resta-nos aguardarmos sua chegada (Mt 25:13) como alguém que não "vê" a hora de reencontrar seu (a) melhor amigo (a). Independentemente de como será o seu retorno revestido de glória, que possamos juntamente com o próximo viver a vida como uma prévia do prazer que teremos na eternidade. Certa vez, uns anjos alertaram: “Homens galileus, por que estais olhando para o céu? Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir” (At 1:11). Enquanto Ele não vem, vamos viver a vida de forma abundante (Jo 10:10b) e descansemos no seu perfeito cuidado: "Descansa no Senhor, e espera nele;..." (Sl 37:7a).


Porque de Él y por Él y para Él son todas las cosas. 

Regis de Souza

fonte: regisdsouza.blogspot.com

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