Johnny Bernardo
A Igreja Mundial do Poder de Deus completará, em março de 2012, 14 anos
de existência. De um grupo de 16 fieis, em pouco tempo a IMPD se
transformou em uma multinacional da fé, com igrejas em quase todas as
cidades do Brasil e em pelo menos treze outros países, dentre os quais
Estados Unidos, Suíça, África do Sul, Filipinas e Japão.
Fundada em 1998 pelo ex-bispo da Igreja Universal do Reino de Deus,
Valdomiro Santiago, a IMPD possui hoje um vasto império, que conta com
emissoras de rádio, TV a cabo, jornais e revistas. Seu maior
investimento, entretanto, foi batizado de “Cidade Mundial” – uma área de
240 mil metros quadrados, localizada em Guarulhos, Grande São Paulo, e
que conta com um galpão com capacidade para 100 mil pessoas sentadas.
Para receber os visitantes, foi desenvolvida uma ampla estrutura que
conta com um restaurante, hotel e lojas de conveniências.
Concebida como um local de concentração de fieis, a “Cidade Mundial” é
um protótipo para outras cidades a serem instaladas em locais
estratégicos do Brasil e exterior. Além da de Guarulhos, outra esta
sendo erguida no Setor 66, Goiânia, Goiás e terá capacidade para 12 mil
pessoas. Quase que ao mesmo tempo, a IMPD esta construindo um
mega-templo que abrigará a sede do setor de Santo Amaro e que também
poderá ser usada como ponto de encontro de obreiros e realização de
vigílias.
Como uma igreja de 16 membros se transformou em uma organização com
tamanha dimensão? E o mais importante: como conseguiu fundos para
sustentar semelhante crescimento? É o que perguntam os estudiosos do
movimento. Com pouco mais de 100 anos de existência, a Assembleia de
Deus ainda não conseguiu desenvolver um programa significativo na área
de comunicação de massa.
Apesar do crescimento financeiro e estrutural das igrejas
neopentecostais, não se pode falar em número de membros. O principal
motivo é que as igrejas neopentecostais, e a IMPD é um exemplo, não
possui rol de membros e as pessoas que para seus templos convergem
partilham outras confissões de fé. O que não se pode negar, entretanto, é
a sua capacidade de alcance, sua estratégia de crescimento que envolve
métodos de marketing e sugestões psicológicas.
Das igrejas neopentecostais brasileiras, a IMPD é a que mais vem
despertando atenção por parte da mídia e do meio acadêmico em geral.
Quais são os seus segredos? De que maneira ela se distingue de outras
igrejas concorrentes? Para compreendermos tal dimensão religiosa, é
preciso voltar ao princípio, compreender de que maneira o bispo
Valdomiro Santiago organizou seu pequeno império.
Março de 1998
No pequeno salão da Rua São Paulo, na interiorana Sorocaba, o ex-bispo
da Igreja Universal do Reino de Deus dava inicio ao seu próprio grupo
religioso. Era o mês de março. Pelo menos 16 pessoas participavam da
primeira reunião da que seria a Igreja Mundial do Poder de Deus. Um
sonho que começou com 16 fieis – ressalta a revista Mundial Sem Limites,
ano V, setembro de 2011. A revista exibe fotos dos primeiros fieis,
relatos dos que foram testemunhas oculares do surgimento da IMPD. Dona
Rhute, uma das pioneiras da igreja, mostra um folheto que o ministério
usava para evangelizar. O folheto, cujo título “Meu projeto de
prosperidade”, dava os primeiros sinais de quais seriam as estratégias
usadas pela nova igreja. A cura “milagrosa” de enfermos também já era
uma realidade e seria o combustível para a expansão da IMPD.
Tamanho foi o impacto das campanhas milagrosas da Igreja Mundial, que em
apenas dez anos já contava com mais de 1.000 igrejas no Brasil e
exterior. De Sorocaba a sede se estabeleceu na Rua Camaleão, 439, Brás,
São Paulo, num galpão com capacidade para mais de dez mil pessoas.
Devido à proximidade com residências e as más condições técnicas do
galpão, a IMPD enfrentou processos judiciais e teve seu templo fechado
por várias vezes entre 2009 e 2011. Apesar de algumas dificuldades, a
IMPD continua crescendo por todo o Brasil e o mundo. Fruto das
arrecadações, Valdomiro e sua mulher exibem um estilo de vida diferente
do de 13 anos atrás.
O homem que gosta de cultivar a fama de matuto mora em um condomínio de luxo em Barueri, na Grande São Paulo, e tem na garagem três carros importados blindados – uma Land Rover, um Toyota e um Peugeot. Motoristas e seguranças particulares estão sempre à sua disposição. Helicópteros e um jato particular também. A Igreja Mundial, por sua vez, tem inaugurado um novo templo por semana e honra, mensalmente, uma despesa em torno de R$ 40 milhões, revela Rodrigo Cardoso e João Loes na matéria “O homem que multiplica fieis”. [1]
O “sucesso” de Valdomiro se deve a uma série de fatores, como sua
experiência como bispo e homem de confiança da Igreja Universal do Reino
de Deus, sua ênfase em “cura divina” e Teologia da Prosperidade. Outra
receita é o seu investimento maciço em meios de comunicação de massa,
herança de sua experiência como apresentador de programas da IURD na
Rede Record. Sua presença na mídia televisiva passou a ser uma realidade
a partir de 2008, quando aluga 22 horas da Rede 21, propriedade do
Grupo Bandeirantes. Um ano depois adquire espaço no horário nobre da
Rede TV, e em 2011 assumiria o espaço antes cedido ao programa Vitória
em Cristo, exibido nas madrugas de sábado na Band. Na CNT, um novo
episódio: paga mais e tira do ar seu concorrente, o missionário R.R.
Soares.
Problemas
O “sucesso” da Igreja Mundial do Poder de Deus seria completo não fosse
alguns problemas, como a crise envolvendo seu templo do Brás com a
Prefeitura de São Paulo, a dissidência de bispos, denúncias de lavagem
de dinheiro e a suspeita de envolvimento (de alguns bispos) com o
narcotráfico. A suspeita ganhou força com a prisão, em março de 2010, de
três bispos da IMPD que ao retornar de Corumbá (MS) foram surpreendidos
por uma operação da Polícia Rodoviária Federal. Abordados na cidade de
Mirandia (MS), foram encontradas sete armas de fogo, de fabricação
norteamericana, num fundo falso das portas dianteira e traseira de um
veiculo que dois dos três bispos conduziam. Um terceiro bispo seria
preso horas depois, em sua residência no bairro Nova Bandeirantes. O
destino da quadrilha seria Niterói (RJ), de onde as armas seriam
distribuídas para traficantes da região. Questionado, Valdomiro Santiago
disse não "conhecer os envolvidos."
Nota
1. ISTOÉ, edição 2151, janeiro de 2011
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Fales mal fales bem fale de nòs
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