terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Qual é o segredo da Igreja Mundial?


Johnny Bernardo
A Igreja Mundial do Poder de Deus completará, em março de 2012, 14 anos de existência. De um grupo de 16 fieis, em pouco tempo a IMPD se transformou em uma multinacional da fé, com igrejas em quase todas as cidades do Brasil e em pelo menos treze outros países, dentre os quais Estados Unidos, Suíça, África do Sul, Filipinas e Japão.
Fundada em 1998 pelo ex-bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, Valdomiro Santiago, a IMPD possui hoje um vasto império, que conta com emissoras de rádio, TV a cabo, jornais e revistas. Seu maior investimento, entretanto, foi batizado de “Cidade Mundial” – uma área de 240 mil metros quadrados, localizada em Guarulhos, Grande São Paulo, e que conta com um galpão com capacidade para 100 mil pessoas sentadas. Para receber os visitantes, foi desenvolvida uma ampla estrutura que conta com um restaurante, hotel e lojas de conveniências.
Concebida como um local de concentração de fieis, a “Cidade Mundial” é um protótipo para outras cidades a serem instaladas em locais estratégicos do Brasil e exterior. Além da de Guarulhos, outra esta sendo erguida no Setor 66, Goiânia, Goiás e terá capacidade para 12 mil pessoas. Quase que ao mesmo tempo, a IMPD esta construindo um mega-templo que abrigará a sede do setor de Santo Amaro e que também poderá ser usada como ponto de encontro de obreiros e realização de vigílias.
Como uma igreja de 16 membros se transformou em uma organização com tamanha dimensão? E o mais importante: como conseguiu fundos para sustentar semelhante crescimento? É o que perguntam os estudiosos do movimento. Com pouco mais de 100 anos de existência, a Assembleia de Deus ainda não conseguiu desenvolver um programa significativo na área de comunicação de massa.
Apesar do crescimento financeiro e estrutural das igrejas neopentecostais, não se pode falar em número de membros. O principal motivo é que as igrejas neopentecostais, e a IMPD é um exemplo, não possui rol de membros e as pessoas que para seus templos convergem partilham outras confissões de fé. O que não se pode negar, entretanto, é a sua capacidade de alcance, sua estratégia de crescimento que envolve métodos de marketing e sugestões psicológicas.
Das igrejas neopentecostais brasileiras, a IMPD é a que mais vem despertando atenção por parte da mídia e do meio acadêmico em geral. Quais são os seus segredos? De que maneira ela se distingue de outras igrejas concorrentes? Para compreendermos tal dimensão religiosa, é preciso voltar ao princípio, compreender de que maneira o bispo Valdomiro Santiago organizou seu pequeno império.
Março de 1998
No pequeno salão da Rua São Paulo, na interiorana Sorocaba, o ex-bispo da Igreja Universal do Reino de Deus dava inicio ao seu próprio grupo religioso. Era o mês de março. Pelo menos 16 pessoas participavam da primeira reunião da que seria a Igreja Mundial do Poder de Deus. Um sonho que começou com 16 fieis – ressalta a revista Mundial Sem Limites, ano V, setembro de 2011. A revista exibe fotos dos primeiros fieis, relatos dos que foram testemunhas oculares do surgimento da IMPD. Dona Rhute, uma das pioneiras da igreja, mostra um folheto que o ministério usava para evangelizar. O folheto, cujo título “Meu projeto de prosperidade”, dava os primeiros sinais de quais seriam as estratégias usadas pela nova igreja. A cura “milagrosa” de enfermos também já era uma realidade e seria o combustível para a expansão da IMPD.
Tamanho foi o impacto das campanhas milagrosas da Igreja Mundial, que em apenas dez anos já contava com mais de 1.000 igrejas no Brasil e exterior. De Sorocaba a sede se estabeleceu na Rua Camaleão, 439, Brás, São Paulo, num galpão com capacidade para mais de dez mil pessoas. Devido à proximidade com residências e as más condições técnicas do galpão, a IMPD enfrentou processos judiciais e teve seu templo fechado por várias vezes entre 2009 e 2011. Apesar de algumas dificuldades, a IMPD continua crescendo por todo o Brasil e o mundo. Fruto das arrecadações, Valdomiro e sua mulher exibem um estilo de vida diferente do de 13 anos atrás.

O homem que gosta de cultivar a fama de matuto mora em um condomínio de luxo em Barueri, na Grande São Paulo, e tem na garagem três carros importados blindados – uma Land Rover, um Toyota e um Peugeot. Motoristas e seguranças particulares estão sempre à sua disposição. Helicópteros e um jato particular também. A Igreja Mundial, por sua vez, tem inaugurado um novo templo por semana e honra, mensalmente, uma despesa em torno de R$ 40 milhões, revela Rodrigo Cardoso e João Loes na matéria “O homem que multiplica fieis”. [1]
O “sucesso” de Valdomiro se deve a uma série de fatores, como sua experiência como bispo e homem de confiança da Igreja Universal do Reino de Deus, sua ênfase em “cura divina” e Teologia da Prosperidade. Outra receita é o seu investimento maciço em meios de comunicação de massa, herança de sua experiência como apresentador de programas da IURD na Rede Record. Sua presença na mídia televisiva passou a ser uma realidade a partir de 2008, quando aluga 22 horas da Rede 21, propriedade do Grupo Bandeirantes. Um ano depois adquire espaço no horário nobre da Rede TV, e em 2011 assumiria o espaço antes cedido ao programa Vitória em Cristo, exibido nas madrugas de sábado na Band. Na CNT, um novo episódio: paga mais e tira do ar seu concorrente, o missionário R.R. Soares.
Problemas
O “sucesso” da Igreja Mundial do Poder de Deus seria completo não fosse alguns problemas, como a crise envolvendo seu templo do Brás com a Prefeitura de São Paulo, a dissidência de bispos, denúncias de lavagem de dinheiro e a suspeita de envolvimento (de alguns bispos) com o narcotráfico. A suspeita ganhou força com a prisão, em março de 2010, de três bispos da IMPD que ao retornar de Corumbá (MS) foram surpreendidos por uma operação da Polícia Rodoviária Federal. Abordados na cidade de Mirandia (MS), foram encontradas sete armas de fogo, de fabricação norteamericana, num fundo falso das portas dianteira e traseira de um veiculo que dois dos três bispos conduziam. Um terceiro bispo seria preso horas depois, em sua residência no bairro Nova Bandeirantes. O destino da quadrilha seria Niterói (RJ), de onde as armas seriam distribuídas para traficantes da região. Questionado, Valdomiro Santiago disse não "conhecer os envolvidos."
Nota

1. ISTOÉ, edição 2151, janeiro de 2011

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