Carlos Moreira
Um dos maiores fenômenos nos EUA nos últimos anos chama-se “Second Life”. Trata-se de um “metaverso, um mundo virtual tridimensional que oferece a qualquer um que tenha acesso a internet a possibilidade de ter uma segunda vida, um alter-ego”.
Um dos maiores fenômenos nos EUA nos últimos anos chama-se “Second Life”. Trata-se de um “metaverso, um mundo virtual tridimensional que oferece a qualquer um que tenha acesso a internet a possibilidade de ter uma segunda vida, um alter-ego”.
O Second Life permite que residentes do universo on-line possam trabalhar, estudar, passear, namorar, fazer compras, vender, ter novos amigos, viajar, ou seja, experimentar quase todas as dinâmicas de uma vida real, mas com uma enorme vantagem: no Second Life você pode ser quem quiser, ter uma outra vida, totalmente diferente da que já possui. Nela você pode ser famoso, rico, bonito, saudável, bem empregado, ou seja, ter ou ser tudo o que você sempre quis, mas que, talvez, nunca tenha conseguido.
Quando eu observo o fenômeno das redes sociais, sobretudo o Facebook, eu me lembro muito do Sencond Life. E por quê? Porque o Facebook permite que se tenha uma vida dentro da própria vida, ele estabelece um ambiente virtual onde qualquer um pode aparentar ser o que desejar! Na verdade, a grande maioria das pessoas estão ali se relacionando com outras milhares que não lhe conhecem bem, ou mesmo que sequer nunca lhe viram pessoalmente.
Eu sou usuário do Facebook. Entro lá para divulgar mensagens, artigos, reflexões, frases, e para dar notícias sobre meu ministério e minha comunidade. Como não tenho tempo para ficar analisando o que se posta, às vezes dou uma olhada rápida no feed de notícias para ver o que aparece por lá... É como se você ficasse diante de um grande “quadro de avisos” onde as pessoas postam as mais diversas informações: frases, músicas, imagens, vídeos, textos, piadas, e tudo o que, eventualmente, lhes chama a atenção.
Obviamente, o conteúdo publicado por cada pessoa muda de acordo com os “conteúdos” interiores que em cada um existe, com sua matriz de valores. Como somos uma geração com muita aparência e pouca consciência, tenho percebido que cada vez mais encontro “material degradável” no Facebook. Recentemente, inclusive, cheguei a afirmar que esse “ambiente” estava parecendo um grande lixão, onde é preciso um esforço hercúleo para se achar algo que se aproveite.
Mas o que mais me impressiona no Facebook é o fato de boa parte das pessoas viverem, na grande maioria do tempo, uma enorme mentira, uma vida que não é a delas. É gente que está despedaçada fazendo piada, casais em crise postando fotos de amor, profissionais frustrados contando vantagens, pessoas solitárias compartilhando experiências maravilhosas, pais descuidados em fotos belíssimas com os filhos, gente flertando e contando lorota, têm de tudo um pouco, muita encenação e pouca verdade. O grande perigo, todavia, é descuidar nos exageros e cair no que bem citou o Millôr Fernandes: “jamais diga uma mentira que não possa provar”.
Triste geração esta, onde ser o que se é tornou-se algo insuportável. Por isso precisamos tanto do disfarce, de algo que nos projete da falsidade real para a realidade virtual. Tem toda a razão Erich Fromm quando afirmou: "somos uma sociedade de pessoas com notória infelicidade: solidão, ansiedade, depressão, dependência; pessoas que ficam felizes quando matam o tempo que foi tão difícil conquistar". E me responda, com total isenção e honestidade, em que lugar se “mata” mais o tempo do que no Facebook?
Diante de tudo isso, alguém pode afirmar que sou contra a tecnologia. Não, não sou. Mas confesso, sou totalmente cético quanto ao fato da tecnologia poder nos tornar pessoas melhores e dar a humanidade um futuro mais tranquilo. E aqui lembro de George Carlim; “construímos mais computadores para armazenar mais informação, produzir mais cópias do que nunca, mas nos comunicarmos menos. Estamos na era do 'fast-food' e da digestão lenta; do homem grande de caráter pequeno; lucros acentuados e relações vazias”.
Escrevi esse texto porque, nessa madrugada, conversando com alguém que conheço há bastante tempo, que não pode me esconder os contornos de sua vida, percebi que seu estado era preocupante, senti suas dores, discerni sua angústia, “inalei” sua tristeza, “sorvi” sua solidão, “degustei” sua ansiedade, seus medos, sua aflição. Foi uma conversa longa e difícil...
Hoje pela manhã, todavia, quando fui divulgar uma programação da comunidade, percebi que depois de termos batido aquele "papo", o dito cujo passou o resto da noite postando piadas, fotos engraçadas, contando vantagens, falando bobagens, dizendo tolices, tirando “onda”, como se nada do que está “depositado” nos escaninhos de sua alma fosse real.
Diante do ridículo da situação, e com certo ar de decepção, não me restou outra alternativa a não ser relacionar tudo aquilo com a velha canção do Bee Gees – “Jive Talking” – numa tradução livre: “Papo Furado”. Sim meu “mano”, tudo aquilo que foi publicado não passou de “conversa mole”, dissimulação e mentira. Por isso, tenha muito cuidado, pois do outro lado da linha tem gente de carne e osso, e não estátuas! Certo mesmo estava o Renato Russo ao afirmar: “mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira”. E viva o Facebook!
Carlos Moreira é coeditor do Genizah
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