terça-feira, 30 de agosto de 2011

Que me Venha a Tristeza Então!


Carlos Moreira

A tristeza é melhor do que o riso, porque o rosto triste melhora o coração”. Ec. 7:3.

Nós vivemos na sociedade da fuga. Foge-se de tudo e, não raro, de todos. As pessoas fogem da realidade, vivem entorpecidas por psicotrópicos, não suportam o mundo como ele se apresenta. Em recente reportagem da Folha de São Paulo, constatou-se que o ansiolítico Rivotril vende mais no Brasil do que Paracetamol e Hipoglós.

Pessoas em fuga... Elas fogem de situações difíceis, inventam uma “mentirinha branca”, aquela que não trás prejuízos... Foge-se do gerente do banco, pois a conta está estourada, foge-se do síndico do prédio, pois o condomínio está atrasado, foge-se do cliente, pois a entrega está fora do prazo acordado, foge-se dos filhos, pois eles demandam tempo, e tempo é algo que nós não temos...

Há os que fogem do confronto, são eternas crianças, tem medo da palavra mais firme, do olho-no-olho, da verdade nua e crua. Evitam a todo custo uma conversa sincera, por isso, criam desculpas esfarrapadas, marcam e não comparecem, prometem e não cumprem, têm medo do enfrentamento porque sabem que agiram erradamente, preferem o jogo de esconde-esconde, arrastam a situação por anos, se possível for. Já afirmava Charles Ferdinand Ramuz "Não basta fugir, é necessário fugir-se para o lado mais conveniente."

Há os que fogem de si mesmos... Tentam esconder o ser do próprio ser, enterram seus sentimentos nos escaninhos da alma, aprisionam suas consciências em masmorras de dor e solidão. Essa é, talvez, a pior das fugas! Friedrich Hebbel afirmou: "A vida da maioria das criaturas humanas é uma fuga para fora de si próprias.". Que agonia é existir apenas para fora, no simulacro, no disfarce, no embuste, é a existência performática, é a vida caricaturada, ou como disse Kierkegaard, “o grande baile de máscaras”.

Tenho visto algo alarmante: pessoas fugindo de qualquer tipo de situação incômoda ou de desprazer. É a existência idealizada sobre a égide do edonismo epicureu, é a busca pelo prazer, pela alegria e felicidade, tudo o mais deve ser evitado. Hospitais, funerais, doentes terminais, estações outonais, as pessoas não querem nada que as remeta as dinâmicas pertencentes à existência: a dor, a perda, o sofrimento, a solidão, a angústia, o medo. E haja Rivotril!

Quero chamá-lo a realidade da vida! O sábio do Eclesiastes afirma que é melhor o enfrentamento com a tristeza do que a fuga dela. É a tristeza, e não o riso, que produz um ser mais “robusto”, uma espiritualidade sustentável, uma fé conseqüente. É girando o moinho da dor que as pessoas se transformam em gente, aprendem a solidarizar-se, a perceber o outro, tornam-se generosas, humildes, contritas e mansas. Somos todos seres singulares, mas bem poetizou o Frejat na sua canção “todo mundo é parecido quando sente dor”.

Não fuja da tristeza, ela pode lhe ser de grande valia na vida! É por isso que o apóstolo Paulo dizia que “regozijava-se nas fraquezas, nos insultos, nas necessidades, nas perseguições e angústias”, pois sabia que estes matizes da vida eram capazes de transformar suas fragilidades em fortalezas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário