Com uma crise hídrica
batendo na porta do país , todos se
perguntam como o vale do Jequitinhonha que sempre sofreu pela falta de chuvas
pode sobreviver.
As noticias são
desanimadoras , rios como Araçuaí , Fanado, Jequitinhonha e outros estão secando;riachos
já secaram ,nascentes pararam de jorrar e poços artesianos que antes se
apresentavam como paliativo para tempos de seca, estão vazios.
Não nos resta tempo pra
lamentar , a urgência de ontem é que a propostas para salvar o vale de um
processo de desertificação anunciado sejam apresentadas o mais breve
possível.
Não são raros os relatos
sobre a biodiversidade de nossas matas ,dos animais que traziam vida pro nosso
cerrado, de uma economia de subsistência
que era vivida pelo homem do campo em tempos nem tão distantes.Tudo isso foi
substituído pelo “deserto verde”, que com a mecanização nem 10 % dos empregos
de antes, podem ser oferecidos à nossa
gente.
É altamente questionável os benefícios da
monocultura de eucalipto no nosso vale , que em alguns anos desde a chegada da
Acesita e Suzano ao vale , trouxe
crescimento econômico , vagas de emprego
e de alguma forma diminuiu o processo migratório da nossa gente para os
grandes centros.
Terras que pertenciam a
pequenos produtores foram adquiridas por valores irrisórios e repassadas para a Acesita que implantou na
nossa região uma das maiores plantações de eucalipto do país.Não bastasse as
grandes empresas , temos visto hoje que o pequeno produtor tem abandonado o
cultivo de alimentos como (milho,feijão,arroz,etc), substituindo pelo plantio
do eucalipto.
O que é mais triste nesse
cenário é o desconhecimento do impacto ambiental que pode gerar o "deserto
verde".Margens de grandes rios são devastadas, nascentes desprotegidas e
um povo é afetado pela ganância de quem não pensa no amanhã , se mostrando
inconsequente em relação ao meio ambiente.
Baseado em alguns estudos ,
sei que a monocultura do eucalipto pode afetar de diversas formas uma região
.Em estudo que se tornou marco sobre o tema, o cientista AUGUSTO RUSCHI,
assegura-nos que o consumo assombroso de
água derivado da monocultura do eucalipto é responsável pela deficiência
hídrica verificada no já devastado norte do Espírito Santo, ao ponderar que:
“Como já explanei em outras
palestras, a fisiologia de algumas espécies, como o Eucalyptus Saligna, o mais
plantado no Espírito Santo, exige um consumo monumental de água (...) a partir
do terceiro ano de vida uma planta desta espécie consome por ano 19,6 milhões
de litros de água, e um hectare com 2.200 árvores consome 49,6 bilhões de
litros de água, dando esse total uma equivalência pluviométrica de 4.000 mm de
chuva por ano. Se considerarmos que na região dos eucaliptos a precipitação
anual chega em média a 1.400 mm/ano de chuva, a diferença necessária de mais de
2.000mm é retirada do solo e subsolo, tanto pela função osmótica como pela
função de sucção das raízes”.
O verde que recobre a
agroindústria, como vemos, é enganador. As vastas plantações de eucalipto não são
florestas, não se prestam a restaurar as infindáveis áreas de matas nativas
suprimidas por esse insano modelo econômico e não geram nem a décima parte da
oferta de empregos bradada por seus empreendedores.
Gostaria de pontuar alguns
dos impactos que o "deserto verde" pode causar:
- Desertificação do clima e
de solo: as grandes florestas como as de eucalipto necessitam de uma enorme
quantidade de água, para se ter uma idéia,
cada pé de eucalipto necessita, para crescer satisfatoriamente,
levando-se em conta o rendimento econômico, de aproximadamente 30 litros de
água por dia, o que acaba gerando um grande déficit hídrico nas regiões onde
são cultivados, gerando assim certa desertificação da região. Esse é um grave problema,
já que muitas plantações são realizadas às beiras de córregos e nascentes de
rios, o que acaba por ressecar o solo.
- Ressecamento do solo e uma
maior exposição à erosão: como o eucalipto está sendo plantado visando-se
unicamente uma maior viabilidade econômica possível, depois de alguns anos a
plantação é cortada, deixando o solo empobrecido e exposto a erosão, causando
enormes impactos ambientais na região onde estava sendo cultivada a floresta.
Outro problema é que, para se tentar recuperar áreas tão degradadas como essas,
são gastas enormes quantias de dinheiro por parte das autoridades competentes;
- Diminuição da
biodiversidade: como acima citado, as florestas de eucalipto são cultivadas
priorizando somente um retorno econômico. Assim sendo, não são cultivadas
juntamente outras espécies de vegetais, o que diminui a diversidade vegetal da
região de floresta, já que a mesma também impede que gramíneas e pequenos
arbustos cresçam e se desenvolvam, embora quando estejam pequenas, as árvores
do eucalipto, não forneçam um bloqueio radiação solar como quando estão
grandes. Outro problema é a falta da diversidade da fauna, já que os únicos
animais que conseguem sobreviver nesses tipos de florestas são “formigas e
caturritas (aves predadoras de lavouras que usam as árvores de eucalipto como
abrigo, mas não se alimentam delas)”.
Uma das empresas que atuam
no ramo é a Aracruz , ela se defende contra as denúncias de que o
eucalipto seca a água do solo e degrada o mesmo retirando os seus nutrientes
com os seguintes argumentos:
- As raízes do eucalipto,
assim como as de outras espécies arbóreas cultivadas, como laranja e manga,
ficam muito longe do lençol freático. (...) Assim, a água disponível para o
eucalipto crescer vem da camada superficial do solo. As florestas plantadas de
eucalipto consomem a mesma quantidade de água que as nativas, mas são mais
eficientes na conversão de água em madeira, pois crescem mais depressa. O
eucalipto consome em média 0,43 m³ de água para produzir 1 kg de madeira. A floresta
nativa, 1,3 m³. Além disso, mais água da chuva chega ao solo das florestas
plantadas, porque, nas nativas, boa parte da água fica nas copas das árvores.
(site: Aracruzresponde).
- O regime hídrico da região
De acordo com os artigos
analisados, apenas em regiões de pouca chuva,
abaixo de uma faixa de 400
mm/ano, o eucalipto poderia acarretar ressecamento do solo. Ou seja, os
impactos sobre lençóis freáticos, pequenos
cursos d´água e bacias
hidrográficas dependem da região em que se insere a plantação (e também da
distância entre as plantações e a bacia hidrográ-fica e da profundidade do
lençol freático).
- As considerações a seguir têm por objetivo
responder duas questões: em primeiro lugar, o eucalipto consome mais água para
seu crescimento do que outras formas de cultivo?; em segundo lugar, as
florestas de eucalipto podem influenciar aspectos hidrológicos e/ou climáticos
(volume de precipitação,água contida no solo, lençóis freáticos, nascentes) do
ambiente em que se inserem?
Poore & Fries (1985)
afirmam que, quanto mais rápido o crescimento de uma árvore, maior seu consumo
de água.
Esse consumo de água,
entretanto, não significa que o eucalipto, necessariamente, seca o solo da
região onde se insere ou, tampouco, impacta, negativamente, os lençóis
freáticos. Isso porque o ressecamento do solo em florestas de eucalipto depende
não somente do consumo de água pelas plantas, mas também da precipitação
pluviométrica da região de cultivo.Davidson (1993), entre outros estudos,
aponta que, somente em áreas de precipitação pluviométrica inferior a 400
mm/ano, o eucalipto pode acarretar ressecamento do solo – ao utilizar as
reservas de água nele contidas(podendo, nesse caso, prejudicar também o
crescimento de outras espécies – fruto da denominada “alelopatia”13). Em
regiões de maior volume pluviométrico, portanto, as plantações de eucalipto,
por receberem mais água do que aquilo que consomem, não levariam ao
ressecamento do solo.
Tentando estudar os dois
lados, não tenho dúvidas do impacto da
monocultura em nosso vale. O que sei é que as grande empresas do ramo que ainda
atuam na região oferecem poucos empregos e com a falta de água na região, o resultado dessa equação
crescimento econômico x degradação ambiental cairá na conta da nova geração que
corre sério risco de não mais ter o que beber , comer e fazer.
Fontes:
WAGNER GIRON DE LA TORRE, é Defensor Público no Estado de
São Paulo e Coordenador da Defensoria Regional de Taubaté.
http://www.ecolnews.com.br/eucalipto_monocultura_e_insustentabilidade_ambiental.htm
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