sexta-feira, 25 de julho de 2014

O que Chesterton, Lewis e Rubem Alves tinham em comum?


 
“Ao final de nossas longas andanças, chegamos finalmente ao lugar. E o vemos então pela primeira vez. Para isso caminhamos a vida inteira: para chegar ao lugar de onde partimos. E, quando chegamos, é surpresa. É como se nunca o tivéssemos visto. Agora, ao final de nossas andanças, nossos olhos são outros, olhos de velhice, de saudade”.
(Rubem Alves)

A frase acima poderia ter vindo direto do livro de G. K. Chesterton, “Ortodoxia”, em que o autor começa com a história de um peregrino que sai a nado da Inglaterra e quando chega aonde acha que queria chegar, descobre que simplesmente deu a volta à ilha e chegou ao ponto de onde partiu.

Assim somos nós, educadores. Não que andemos em círculos, mas que estejamos sempre em movimento e sempre nos movendo em direção a uma familiaridade maior com o que sempre foi assim e muitas vezes não percebemos. 

Poderíamos resumir o pensamento de Rubem Alves aqui com o versículo eclesiástico que diz que “não há nada de novo debaixo do sol”. Mas isso poderia dar uma ideia errada do que o filósofo-teólogo parece querer dizer. Ser educador é uma das profissões em que mais somos confrontados com novidades: principalmente no que diz respeito às tecnologias da educação.

Mas quero crer que as grandes verdades em torno da educação sejam permanentes e universais. Chesterton dizia ainda mais que deixou de lado os contos de fada que ouvia de sua ama na infância em certa idade, mas que voltou a eles depois de certa altura, quando descobriu que as verdades que aprendeu na universidade e com a experiência estavam todas lá, nesse tipo de história.

Além de andarilho, em busca de verdades que já conhecia, mas de que havia se esquecido, Rubem Alves foi um educador contador de histórias. Ele era mestre em usar a metáfora e o exemplo como meio educacional.

Ele não teorizou muito sobre as histórias e sobre a educação, mas combinou ambas, contando histórias sobre a educação, de uma maneira única. E nessa combinação cabiam todos os assuntos: vida, alegria, esperança, liberdade, amor, pois todas têm a ver com a educação, no seu sentido mais amplo.

Lendo nas entrelinhas de qualquer uma de suas histórias (o que ele urgia que o leitor fizesse muito mais de que se ater ao sentido literal dos textos que lia), é possível encontrar sua concepção de educação que mais se aproxima da ideia antiga greco-judaica de “Paidéia”, que envolve o ser humano na sua integralidade e de uma utopia holística e dialética, do que de qualquer conceito moderno. 

Ele também se aproxima da arte e das artes liberais, com seu currículo do “trivium”, que são as ferramentas da educação (retórica, dialética, gramática) e seu “quadrivium”, que são as disciplinas propriamente ditas. Usando uma imagem popular: ele não dava o peixe, mas a vara para pescar.

Mas o que é mais importante para nós, cristãos, é que ele aproximava educação não apenas com psicologia e filosofia, mas também com teologia, em frases memoráveis como:

“Deus existe para tranquilizar a saudade”.

Isso por sua vez lembra muito C.S. Lewis, que falava com frequência da saudade e do desejo que temos no fundo do coração, por Deus e pela alegria que Ele proporciona e que o buraco que temos no coração tem os contornos precisos de Cristo.

Chesterton, Lewis e Rubem Alves, esses contadores de histórias (e educadores) itinerantes dizem coisas das quais a gente exclama: “Bem que eu já sabia disso, mas será que poderia ter sido mais bem formulado e expresso?” E para isso, apelam para o uso da imaginação, que é uma das mais poderosas dimensões da formação humana, disponível ao educador.

Podemos dizer que eles completaram a jornada, deixando saudades, mas chegando precisamente onde queriam chegar: na origem e consumação de tudo.

Rubem Alves, o Protestantismo Histórico e sua Crença em Deus





 
Após alguns minutos de oração na capela do campus da Universidade Metodista de São Paulo, soube, através de alguns funcionários da instituição, que o teólogo e humanista Rubem Alves havia falecido. A notícia, somada a da perda de João Ubaldo, um dia antes, caiu como uma hecatombe no cenário intelectual brasileiro. São duas fíguras de renome, de grande contribuição acadêmica, embora com algumas diferenças pontuais. Um mineiro, outro baiano, respectivamente, entram para a História dada suas inegáveis contribuições à compreensão da dinâmica religiosa e social do Brasil. A morte de Rubem Alves, no entanto, é de maior impacto por conta de seu posicionamento com relação ao destrutivismo do fanatismo, da maneira como determinados grupos religiosos entendem e influêciam a sociedade, estabelecem relações com o mundo contemporâneo. De certo que o mineiro radicado em Campinas passou por um processo conturbado em seu relacionamento com o presbiterianismo, com o qual, na década de 70, travou duros debates, levando-o a publicar, em 1979, o livro “Protestantismo e Repressão”. Alves foi, sobretudo, um sobrevivente à repressão estatal, do período da Ditadura Militar. Fundamento o presente artigo na análise de Leonildo Silveira Campos: “O Discurso Acadêmico de Rubem Alves sobre o ‘Protestantismo’ e ‘Repressão’ algumas observações 30 anos depois”, enviada em 2007 e aprovada pela Scielo Brazil em 2008.

De intelectual, acadêmico, nos últimos anos Rubem Alves passou a se dedicar a uma linguagem mais leve, voltada ao dia-a-dia da sociedade, das necessidades da realidade em que os pobres se veem inseridos em uma mesma dinâmica, conjuntura social. Religião & Sociedade são as bases da análise de Alves desde pelo menos o fim dos anos 70, escrevendo em meio a Ditadura Militar. O que o autor e humanista procura fazer compreender é a necessidade de a Igreja ser mais progressista, aberta ao diálogo, compreensiva dos desafios sociais, presente na vida da comunidade, de seus membros. Profícuo escritor – é autor de mais de 120 livros -, conferencista e educador, Alves deixa como legado sua participação nos primeiros estudos do protestantismo histórico – antes apenas o catolicismo e as religiões de origem africana despertavam o interesse de intelectuais brasileiros e franceses. Alves declara, abertamente, sua repulsa à forma como certos grupos dentro do protestantismo histórico conduzem suas denominações.

OLIVEIRA (1997:61) pontua que Rubem Alves ressalta a importância do surgimento do Protestantismo. Para ele, o espírito protestante não nasceu prisioneiro das amarras da instituição da razão, nasceu a partir da exigência dos corpos e sua teologia surge daquilo que as pessoas são. “De fato, o protestantismo tem muito a ver com a coragem para assumir a própria individualidade” (ALVES, Rubem. Dogmatismo e Tolerância. Loyola, 2004. p. 23). Os protestantes são marcados pela coragem de “[...} contrapor a voz da consciência individual à voz das autoridades constituídas” (Ibidem). Ao fazerem isso, completa OLIVEIRA, “os protestantes afirmam que o Espírito de Deus é livre e imprevisível. Ele não pode ser monopolizado pelas instituições. Essas ideias estão presentes na compreensão de que todas as pessoas que creem são sacerdotes”. Na prática, o que Alves e outros pensadores condenam, é a demasiada verticalização da fé, do estabelecimento de limites entre a fé e sociedade. Eles propõem uma teologia libertária, não menos espiritualizada, mas com maior presença no mundo.

De forma antecipada, Rubem Alves é o primeiro a notar a característica mercadológica como os primeiros grupos neopentecostais se apresentavam na década de 70. Dessa forma, o autor amplia seu foco de análise ao se dedicar ao estudo da nova fenomenologia religiosa. Assim, no decorrer dos anos 1970, foi ficando cada vez mais claro para Alves que uma mentalidade empresarial começava “a produzir e a distribuir bens espirituais” no Brasil e que a lógica capitalista, fundamentada nos valores de troca e no utilitarismo, poderia provocar o atrofiamento da razão crítica. Comentando um instigante texto de Monteiro sobre Igrejas, seitas e agências, Alves (Vale 1979:111) perguntava: Estamos diante de um “fenômeno religioso” ou de uma “espiritualização da economia”? Monteiro morreu logo após, mas os comentários de Alves e as questões levantadas por eles ainda perturbam e estimulam pesquisas sobre novos movimentos religiosos brasileiros, particularmente os de perfil “neopentecostal”, a fortiori, a Igreja Universal do Reino de Deus. (CAMPOS 1997:107). A IURD inaugura a terceira fase, de acordo com uma metodologia de divisão do pentecostalismo brasileiro, de P. Freston.

Não obstante todas as contribuições acadêmicas, de compreensão da fenomenlogia religiosa brasileira, Rubem Alves tem sido alvo de questionamentos por supostamente ter “abandonado a fé”, ou desenvolvimento uma “compreensão de Deus diferente da adotada pelo protestantismo”. Declaram-no ateu, agnóstico. Há sérias dúvidas quanto ao posicionamento teológico do autor, mas boa parte de seus mais de 120 livros versam sobre religião e teologia. Escreveu, dentre outros livros, “Creio na Ressurreição do Corpo”, “Pai Nosso”, “Da Esperança” e “O Deus que Conheço”, “Sobre o Tempo e a Eternidade”. Composto em forma de poema, “Pai Nosso”, de Rubem Alves, foi citado em setembro de 2013 no portal nacional da Igreja Metodista. Em “O Deus que Conheço” (2010, p.21), Alves deixou escapar: “Posso então responder à pergunta que me fizeram. É claro que acredito em Deus, do jeito como acredito nas cores do crepúsculo, do jeito como acredito no perfume da murta, do jeito como acredito na beleza da sonata, do jeito como acredito na alegria da criança que brinca, do jeito como acredito na beleza do olhar que me contempla no silêncio. Tudo tão frágil, tão inexistente, mas me faz chorar. Dizia o poeta Paul Valéry: ‘Que seria de nós sem o socorro daquilo que não existe?”

Johnny Bernardo para o Genizah

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Eita Gizuz maravilhoso: Pastor neopentecostal manda seus fiéis comerem grama e eles gostam!







A notícia é do Daily Mirror,
publicada no UOL:

Difícil acreditar mas um pregador neopentecostal africano conseguiu persuadir seus fiéis a comer grama alegando que desta maneira eles estariam “mais próximos de Deus”.

As mensagens polêmicas do pastor Daniel Lesego, líder do Ministério Centro Raboni em Pretória, uma das capitais da África do Sul, têm provocado milhares de críticas no mundo inteiro.

A comilança de grama, segundo reportagem do jornal inglês Daily Mail, causou indisgestão em muitos fiés, enquanto que outros garantiram terem sido curados, por milagre.

Nas palavras do pastor, a dieta inusitada demonstra que o ser humano é capaz de qualquer atitude quando tem consigo o poder de Deus.


Milagre de Gizuz!


Diante desta notícia maravilhosa, estamos aqui no Genizah chorando de alegria e dando glórias: Eita Gizuz maravilhoso!

FInalmente, vamos ver os fiéis neopentecostais serem tratados como merecem. Nada de exploração financeira impiedosa, mas apenas amor: Capim gordura e um descanso sem arreios nos pastos verdejantes. Agora só falta o pastor dar água fresquinha e um boa escovada nos pelos diariamente.

Valdemiro Santiago, Renë Terra Nova e Edir Macedo aprendam! Deixem seus rebanhos encontrarem a felicidade! Chega de dízimo, ofertas e macumbaria gospel. Soltem-os nos gramados, em nome de Gizuz!

O meu marido é bonito mas é todo meu. Se estas querendo um varão peça pra Deus o seu!








Oh meu Deus! É pra glorificar de pé!
Sucesso, este corinho!

terça-feira, 15 de julho de 2014

Cresça





 Pastor Edimilson




O menino cresceu e foi desmamado. E, no dia em que o menino foi
desmamado, Abraão deu uma grande festa –
Gn 21.8

Abraão deu uma festa quando seu filho Isaque foi desmamado, mostrando sua alegria por ver seu filho avançando uma etapa rumo à maturidade. Quando leio este texto costumo ver aqui a alegria de Deus conosco quando crescemos mais um pouquinho, diante de cada progresso nosso. A infância é algo bonito, desde que seja vivida somente em seu devido tempo. Ou seja, só é bom ser criança no tempo de ser criança. Quando esse tempo passa, se não deixarmos de ser criança, é sinal de que alguma coisa não está normal em nossa vida, quando Jesus disse que devemos ser como crianças para entrarmos no reino de Deus, ele estava falando de alguns aspectos da criança que nunca devemos perder, ou seja, nossa dependência de Deus, nossa pureza, nossa humildade. Mas no que diz respeito às demais coisas, Deus espera que cresçamos.

Alguns sinais de imaturidade emocional e espiritual mostram que estamos vivendo uma infantilidade fora de tempo:

Exclusividade das atenções. Como as crianças gostam de ser o centro das atenções! Quando chega o irmãozinho mais novo, muitas delas se sentem ameaçadas e chegam a ficar deprimidas. As crianças se esquecem de que as atenções que foram dispensadas a elas, outros necessitam agora e que elas devem ajudar a cuidar dos novos. Mas a criançona fica ressentida e emburrada porque perdeu o colinho. “Desde que chegaram estes aí, ninguém liga mais para mim nem dá a atenção que eu tinha no começo”, diz a criança com o bicão.

Falta de discernimento. Tudo o que a criança pega coloca na boca. Quando se sofre de criancice crônica, a pessoa engole tudo o que lhe dão. Ou então dispensa comida boa e troca por doce ou por coisas que fazem mal à saúde. Como dói ver pessoas dispensando um bom prato de comida da palavra de Deus, por doce que só tapia o estômago da alma.

Melindre. Crianças se magoam com qualquer coisa. Quando se lida com as crianças da vida é preciso se ter o maior cuidado com o que se fala e com o que não se fala, com o que se faz e com o que não se faz. Crianças ficam trancadas em casa, feridos porque alguém não lhes cumprimentou, lhes olhou feio, não sorriu para eles. Crianças são melindrosas.

Teimosia. Crianças são teimosas porque cismam que sabem o que estão fazendo, que sabem o que querem e que sabem o que é melhor para si. Mas, vivem quebrando a cara. Ouvir conselhos é coisa de adulto. Quebrar a cara faz parte do aprendizado. Mas, quando se vive a eterna infância, a pessoa quebra a cara, mas não aprende, e não escuta ninguém porque acha que já sabe tudo.

Quando virmos alguns destes sintomas de criancice em nós, vamos falar para nós mesmos: “cresça”. Deus quer dar uma festa. Ele só fará isso quando largarmos a mamadeira, quando dermos os primeiros passos, quando sairmos das fraudas. Deus dará uma festa quando deixarmos de dar trabalho e começarmos a trabalhar.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Provas definitivas revelam o plano dos Illuminati e da Maçonaria para a nova ordem mundial!








Hermes C. Fernandes


Os Illuminati e a Maçonaria dominam o mundo e estão por trás da nova ordem mundial! A vacina contra a gripe suína é uma farsa e visa coibir o aumento da população mundial. Os americanos capturaram extraterrestres e os mantém vivos numa base secreta chamada Área 51. John Lennon foi assassinado pela CIA.Michael Jackson foi vítima de conspiração da indústria fonográfica. A Xuxa fez pacto com o diabo. Estas são algumas das teorias de conspiração mais conhecidas em nossos dias.

Recentemente deparei-me com alguns artigos e vídeos sobre tais teorias. Algumas chegam a ser plausíveis, nos levando a refletir sobre muita coisa que temos visto na mídia em geral. Outras, porém, além de improváveis, revelam a criatividade mórbida de quem as inventa.

Não duvido de que muito daquilo que nos é contado nas aulas de história nada mais é do que a versão de quem venceu a guerra. Também não duvido que muitos dos dirigentes das nações não passem de marionetes nas mãos das elites. Creio que entre os famosos haja quem tenha feito pactos demoníacos para alcançar o sucesso. Enfim, tudo isso me parece factível, ainda que não seja provado.

O que me incomoda é que tem muita gente se deixando levar por uma onda de factóides conspiratórios, empreendendo uma verdadeira caça às bruxas. Em vez de se preocupar em construir uma sociedade mais justa e transparente, ficam a espreitar em busca de sinais que evidenciem alguma conspiração. Se a logomarca de uma empresa tem um forma geométrica triangular, logo é considerada satanista, simplesmente porque o triângulo lembra pirâmide, usada em cultos ocultistas. Se vêem um arco-íris, lá vêm as suspeitas de que tenha alguma ligação com a agenda gay. Isso acaba se tornando uma obsessão. Produtos são boicotados por sua pseudo-ligação com o ocultismo. Lendas urbanas são engendradas, como aquela que diz que o McDonald's patrocina o satanismo, ou que a chegada do homem à Lua foi uma farsa, ou que o Elvis ainda vive escondido em alguma ilha do Pacífico.

Pelo amor de Deus! Será que não percebem que isso atenta contra nossa saúde espiritual e emocional?

Não ouso negar que algumas de tais teorias não procedam. Porém isso não pode me distrair do foco. Tenho que prosseguir impulsionado pela certeza de que Deus tem o controle de tudo, inclusive das tentativas humanas ou satânicas de frustar Seus planos.

Tenho que acreditar que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, e que são chamados segundo o Seu propósito (Rm.8:28).

Esta era a certeza que norteava a igreja primitiva. Logo na primeira perseguição que sofrera, a igreja se reuniu e em oração declarou:
"Ó Soberano, tu fizeste o céu, a terra, o mar e tudo o que neles há! Tu falaste pelo Espírito Santo por boca do teu servo, nosso pai Davi: ‘Por que se enfurecem as nações, e os povos conspiram em vão? Os reis da terra se levantam, e os governantes se reúnem contra o Senhor e contra o seu Ungido’. De fato, Herodes e Pôncio Pilatos reuniram-se com os gentios e com os povos de Israel nesta cidade, para conspirar contra o teu santo servo Jesus, a quem ungiste. Fizeram o que o teu poder e a tua vontade haviam decidido de antemão que acontecesse. Agora, Senhor, considera as ameaças deles e capacita os teus servos para anunciarem a tua palavra corajosamente” (At.5:24-29).
Que há conspirações, certamente que há. Mas elas não nos podem demover de nosso propósito central. Há uma conspiração maior do que aquelas engendradas pelos poderosos deste mundo: a conspiração do Reino de Deus.

A passagem usada pelos cristãos primitivos nesta oração foi registrada originalmente no Salmo 2. Na continuidade do salmo, Davi relata a reação de Deus diante das conspirações dos poderosos:
“Do seu trono nos céus o Senhor põe-se a rir e caçoa deles”(Salmos 2:4).
Em outras palavras, Deus não os leva a sério. Se de fato há treze famílias na terra que detém o poder sobre os governos e instituições financeiras, por mais poderosos que sejam, Deus acha graça e caçoa deles. Nem os Illuminati, nem oPriorado de Sião, ou a fraternidade “Skull and Bones”, devem despertar em nós outra reação que não seja riso. Não passam de um monte de gente boba, estúpida, tentando assegurar seu poder no mundo, mas cujo destino já está selado (1 Co.2:6).

Lembre-se que Ele é quem “remove reis e estabelece reis” (Dn.2:21). Não vou gastar o resto da minha vida preocupado com quem será a besta do Apocalipse ou o Anticristo. Na mesma passagem em que João alerta a igreja sobre o espírito do Anticristo, ele ressalta: “Vós sois de Deus, e já o vencestes, porque maior é o que está em vós do que o que está no mundo” (1 Jo.4:4).

Mesmo a Besta do Apocalipse está submetida a autoridade do Rei dos reis. Por isso a Escritura afirma que o próprio Deus pôs no coração dos reis que a seguem“o realizarem o intento dele, concordando dar à besta o poder de reinar, até que se cumpram as palavras de Deus”(Ap.17:17). Isso nos traz segurança. Nosso Deus não é um fantoche nas mãos dos homens, tampouco é pego de surpresa por suas conspirações. Ele tem Sua própria Agenda!

Não sou eu quem vai perder tempo ouvindo discos rodando ao contrário atrás de mensagens subliminares.
Parem de ver o chifre do diabo em tudo e comecem a ver a providência divina conspirando pelo estebelecimento do Reino de Deus entre as nações.

Imagine se a igreja primitiva se negasse a usar as estradas construídas pelo Império Romano, alegando que aquilo era obra do diabo!

Custou anos até que os crentes permitissem que a TV entrasse em suas casas. Pregadores vociferavam de seus púlpitos, ameaçando os crentes com a perda da salvação, caso deixassem que o olho de Satanás entrasse em seus lares.

Tudo isso é meninisse, e se quisermos cumprir nossa missão temos que deixar as coisas de menino.

Sinceramente, acho que a maior cartada que o inimigo tem dado para coibir o avanço da igreja tem sido justamente esta: distrair-nos com suas teorias de conspiração.

Paulo recusou-se a se deixar distrair. A leitura que fazia dos fatos era sempre ressaltando a soberania de Deus e a maneira como as coisas se encaixavam para bem-suceder Seus propósitos eternos.

Imagine se Paulo pensasse como muitos crentes de nossos dias. Ele escreveria da prisão dizendo: Irmãos, o diabo é muito sujo. Olha o que ele fez comigo, usando aqueles judeus para me acusar injustamente, e pressionar os romanos a me prenderem. Tudo foi uma conspiração! Orem e denunciem para abrir os olhos dos outros irmãos.

Mas em vez disso, veja o que ele escreve de dentro da prisão:

“E quero, irmãos, que saibais que as coisas que me aconteceram contribuíram para maior avanço do evangelho. De maneira que as minhas cadeias, em Cristo, se tornaram conhecidas de toda a guarda pretoriada e de todos os demais. Muitos dos irmãos no Senhor, tomando ânimo com as minhas cadeias, ousam falar a palavra mais confiadamente, sem temor”(Fp.1:12-14).

Bem que Jesus advertiu que se nossos olhos fossem bons, tudo ao nosso redor seria luz. O que nos difere do incrédulo não é o fato de nos sucederem coisas boas, enquanto a eles somente coisas más. O que nos difere é a leitura que fazemos da realidade. Temos a certeza de que Deus orquestra todas as coisas, de maneira que, até as que são aparentemente ruins, se tornam revestidas de um novo significado, à medida que nos conduzem na direção da concretização dos propósitos divinos.

Os irmãos de José conspiraram contra ele, mas muito acima de seus planos mesquinhos estava a conspiração divina para elevá-lo ao segundo posto mais importante do Egito, e assim, ajudar a preservar a linhagem da qual viria o Filho de Deus (Gn.45:5-8).

Os presidentes e sátrapas da Babilônia conspiraram contra Daniel, armando um flagrante que forçaria o rei a lançá-lo na cova dos leões. Porém, acima de suas conspirações estava a conspiração divina para elevar ainda mais a Daniel naquele reino. O texto que relata este episódio termina dizendo: “Foi assim que Daniel prosperou no reinado de Dario, e no reinado de Ciro, o persa” (Dn.6:28).

Não sejamos ingênuos, mas também não sejamos obcecados. Mantenhamos nossos olhos fitos no autor e consumador de nossa fé, e não deixemos que nenhuma teoria de conspiração nos distraia do foco.

Em tempo, não me importo com quem está por trás das conspirações, mas com quem está acima de todas elas.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

DEZ CARACTERÍSTICAS DE UMA IGREJA FRIA


Por Renato Vargens

Um número significativo de cristãos acreditam que uma igreja fria é caracterizada pela ausência do chamado reteté de Jeová.

Nessa perspectiva  ensinam que uma comunidade desaquecida espiritualmente é desprovida de gritos, danças, giro santo, e outras coisas mais.

Há pouco fiquei sabendo de um irmão aque afirmou que uma igreja gelada é aquela que enquanto o pastor prega ninguém grita glória, aleluia ou coisa parecida.

Caro leitor, as definições que alguns entendem quanto ao que seja uma igreja fria é de arrepiar os cabelos. Lamentavelmente parte do povo de Deus tem fundamentado sua percepções doutrinárias em achismos desprovidos de conteúdo bíblico.

Isto posto, resolvi elencar sete REAIS características de uma fria:

  1. Uma igreja fria se caracteriza pela relativização do pecado. Geralmente os membros destas comunidades chamam doce de amargo, amargo de doce; luz de escuridade, escuridade de luz. Nessa perspectiva, não vêem problemas no sexo antes do casamento, em defraldar o próximo, em mentir, em promover suborno, fazer fofocas, produzir contendas e muito mais.
  2. Uma Igreja fria é uma igreja que não valoriza a oração. Uma igreja que não ora e não acredita na importância de orações, intercessões e ações de graça é uma igreja desprovida da vida de Deus em suas estruturas.
  3. Uma Igreja fria ama o mundo e as coisas que há no mundo. Nessa perspectiva permitem que os valores deste século prevaleçam sobre aquilo que as Escrituras dizem e ensinam.
  4. Uma igreja fria relativiza as Escrituras. Para ela, a Bíblia não é a Palavra de Deus e em virtude disso colocam aquilo que sentem, acham ou pensam acima das verdades contidas na Bíblia.
  5. Uma igreja fria é desprovida de amor. Para os membros desta comunidade, gente é tratada como coisa e não como pessoas que possuem dores, angústias, problemas e carências.
  6. Uma igreja fria é caracterizada pela ausência de misericórdia em suas estruturas. Nessa perspectiva os órfãos são negligenciados, as viúvas abandonadas e os pobres desprezados.
  7. Uma igreja fria  é uma igreja desprovida de santidade. Para ela, conceitos como "separação  do mundo" são antiquados e ultrapassados.
  8. Uma igreja fria é uma igreja aonde não há relacionamentos profundos entre os irmãos.
  9. Uma igreja fria é uma igreja que valoriza os defeitos e erros dos irmãos em detrimento as virtudes e valores.
  10. Uma igreja fria é uma igreja que há muito perdeu o temor do Senhor.
É o que penso, é o que digo.

Renato vargens

quarta-feira, 9 de julho de 2014

O evangélico e o alcool






Matéria de capa
Por Danilo Fernandes


Você, leitor cristão, imagine-se na seguinte situação: depois de uma abençoada reunião de oração e estudo da Palavra de Deus, é hora daquela gostosa comunhão regada a comes e bebes. Ato contínuo, o dono da casa abre uma garrafa de vinho e oferece a bebida aos presentes. Se você acha que se sentiria constrangido e inseguro entre aceitar e ser criticado pelos outros ou recusar e perceber, meio sem graça, que todos provaram da bebida, saiba que não está sozinho. A maioria dos evangélicos já passou por situação semelhante, se não na casa de irmãos na fé, no ambiente de trabalho ou no lazer com amigos. Consumir álcool, para os crentes brasileiros, é mesmo como um tabu, e até aqueles que são membros de denominações ou grupos cristãos mais liberais em relação ao assunto têm certa preocupação em serem vistos com o copo na mão.

Vinho: Entre as bençãos da Terra Prometida
O que a maioria dos evangélicos brasileiros desconhece é que esta visão estigmatizada acerca do álcool é coisa muito recente na história da Igreja. Ao longo de quase 2 mil anos de cristandade, prevaleceu a noção de que a bebida, em si, é neutra, uma dádiva do Senhor que traz alegria – sendo o seu consumo excessivo, ou embriaguez, esta sim, pecaminosa. De fato, muitos crentes se escandalizariam ao descobrir que, na galeria dos heróis da fé protestante, homens e mulheres de Deus consumiam bebida alcoólica, e ficariam surpresos por saber que certos segmentos da Igreja, em nome do abstencionismo, alteraram até mesmo um dos ritos mais importantes, ao lado do batismo: a celebração da eucaristia. O detalhe é que o vinho é mencionado reiteradamente nas Escrituras, tanto no sentido literal como por expressão poética. E o produto da uva era parte fundamental da cultura, da religiosidade e da economia do povo hebreu, desde sua origem. 

Em relação ao álcool, os cristãos se dividem basicamente em três correntes: os abstêmios, que optam por beber eventualmente, mas não combatem quem pensa diferente; os temperantes – ou moderacionistas, que assumem beber em determinadas circunstâncias e com moderação –; e os proibicionistas, que advogam a condenação total ao ato de beber álcool. Por aí, já se tem uma noção do tamanho do problema.

Com ascendência religiosa ligada ao arminianismo das tradições batistas do sul dos Estados Unidos e ao pentecostalismo clássico, o movimento evangélico brasileiro tende historicamente à rejeição total ao álcool, posição que, no entanto, tem tantas motivações culturais quanto espirituais. E a prática evangelística dominante no país, muito pautada na oposição ao catolicismo, faz com que a maioria dos evangélicos brasileiros se surpreenda ao descobrir diferenças culturais marcantes entre eles e os cristãos de outros povos, em especial os europeus. De fato, na Europa, até mesmo os pentecostais não costumam ter qualquer pudor diante de um canecão de vinho ou de uma reluzente tulipa de cerveja.

A enfoque cristão da bebida está relacionado a cultura dos missionários.
“Depois de ter vivido em diversos países, tenho percebido que a questão da bebida está mesmo muito ligada à cultura dos missionários que chegaram a cada região”, confirma o bispo Josep Rossello Ferrer, moderador da Igreja Anglicana Reformada no Brasil. No Velho Mundo, os cristãos veem o ato de beber com maior normalidade que os americanos, por exemplo – por isso, muitas práticas na Igreja brasileira de hoje são frutos de ideias religiosas oriundas dos Estados Unidos, o que explica porque as denominações surgidas do esforço missionário americano do século 19 (batistas e presbiterianos, por exemplo), guardem em sua memória a visão abstencionista.

Líder de uma comunidade anglicana em Pindamonhangaba (SP), Ferrer, que é espanhol, observa que sua organização religiosa não tem uma posição oficial sobre o assunto. “Entendemos que a decisão de beber ou não é uma questão de liberdade cristã. Alguns irmãos podem usar álcool sem nenhum problema de consciência, enquanto outros entendem que isso seria pecado”. Por isso, o sacerdote faz questão de não tratar o assunto como dogma. “Não se pode afirmar que a Bíblia condena a bebida. Encontramos nas Escrituras avisos claros contra o estado de embriaguez, que leva à perda do controle dos sentidos, mas não vemos nenhuma restrição ao consumo moderado.”

MODERAÇÃO SEM CONDENAÇÃO

Tal visão encontra reflexo na opinião de muitos crentes. Para o fotógrafo e missionário Duda Ferreira, 39 anos, de tradição batista (é neto de pastor) e hoje ligado à Igreja Bola de Neve, o episódio bíblico em que Cristo transforma água em vinho é emblemático: “É interessante constatar que tendo Jesus, juntamente com seus discípulos, sido acusado pelos fariseus de negligenciar os rituais de apropriados de limpeza antecedentes às refeições (Mateus 15:2) tenha usado exatamente desta água de purificação (João 2:6) para transformar em vinho nas bodas de Caná. Acho que havia uma lição extra neste episódio.” Recentemente retornado do Havaí (EUA), onde praticava surfe e liderava uma célula de crentes, ele observa que a questão cultural não pode mesmo ser deixada de lado na análise da questão, mas recomenda cuidado. 

O missionário Duda (com sua célula de surfistas) diz que o episódio da transformação de água em vinho é emblemático.

“No exterior, convivi muito com cristãos que consumiam álcool com moderação, da mesma maneira como presenciei pessoas estragando suas vidas com bebida”. Para Duda, o potencial destrutivo do álcool explica porque mesmo o uso moderado do vinho seja um escândalo para crentes brasileiros. “O choque cultural é real. Lembro-me de ter recebido, na minha célula aqui no Brasil, um casal francês que trouxe uma garrafa de vinho para a Ceia. Houve constrangimento entre os presentes. Eu acho que não faria qualquer diferença, mas, naquele contexto, o incômodo dos irmãos foi, por si só, razão para manter a garrafa fechada.”

“O tema sempre será delicado, e por isso devemos tratá-lo biblicamente, mas nunca na base do ‘pode ou não pode’”, opina, por sua vez, Hernandes Dias Lopes, pastor e escritor de confissão presbiteriana. “Este é um caminho que pode construir uma ética farisaica e uma espiritualidade rasa”. Para Hernandes, há uma dificuldade bíblica de se fazer uma defesa radical pela abstinência, de maneira que a questão deve ser ponderada. Ele lembra que a ética cristã não se baseia somente no direito ou na consciência de cada um, mas no direito do outro e no amor ao próximo. “Dessa maneira, não se pode fechar os olhos para a realidade de tantas tragédias pessoais decorrentes da bebida e das perspectivas da juventude brasileira, que está sendo consumida pelo álcool”. 

Os perigos do alcóol são destacados por Hernandes: "Se beber pouco ou muito escandaliza meu irmão, devo abster-me"

Hernandes alerta que as igrejas nem precisam olhar para fora para constatar a imprudência no consumo do álcool, mas atentar para a secularização vista nas congregações hoje: “Tenho ido a casamentos de crentes a cujas cerimônias seguem-se festas suntuosas regadas a todo tipo de bebida. O que se passa é que, no fim da festa, se vê cristãos saindo destes repastos com as pernas bambas” . Se beber pouco ou muito é motivo de escândalo para um irmão, acrescenta Hernandes, “então eu devo abster-me de beber”. Princípio, segundo ele, que deve nortear de resto qualquer atitude do crente.

Pensar que o álcool é intricadamente ruim é atribuir mal a Deus, que o fez”, avalia o pastor episcopal Carlos Moreira, 46 anos, de Recife (PE). “Deus é santo, e em Salmos 104.15 aprendemos que ele fez o vinho, que alegra o coração do homem, assim como o azeite que faz reluzir o seu rosto e o pão, que lhe fortalece”.

Moreira: “Não me parece que Jesus se importasse em escandalizar fariseus”
Defensor da moderação, Moreira conta que certa vez foi flagrado por um membro de sua paróquia enquanto consumia cerveja em um restaurante. “Com tom condenatório, aquela pessoa perguntou-me como eu podia estar bebendo”. A resposta, simples e até bem humorada – “Minha irmã, não quero e nem posso ser melhor do que Jesus” –, expressa sua preocupação com o legalismo. “O legalista não está satisfeito com os padrões da justiça de Deus. Ele arrogantemente pensa que pode fazer melhor que o Senhor – legisla ele mesmo, segundo as suas próprias aspirações religiosas. Assim, proíbe o que Deus permite e, como resultado, muitas vezes permite que Deus proíbe.”

Carlos Moreira reconhece a gravidade do problema do alcoolismo e afirma que nenhum cristão, em sã consciência, deve oferecer motivo de tropeço a um irmão sob o jugo desta doença. “Contudo”, pondera, “essa lógica de que devemos eliminar alguma coisa por completo de nossas vidas porque há quem abuse da liberdade de usá-la não me parece uma atitude compatível com a nossa liberdade cristã e com o exercício de maturidade que esta envolve”. O pastor lembra que o reformador Martinho Lutero resumiu esta perversão que força uma religiosidade vazia com um comentário provocativo: “Ora, os homens são levados ao erro por conta de mulheres e bebidas. Deveríamos nós abolir as mulheres?”, cita.

Para Moreira, a ética cristã não possibilita que se traga escândalo ao irmão, o que é um conceito aplicável a situações específicas – “Caso de um crente novo na fé, por exemplo” –, não uma regra geral: “Considere o caso de Jesus, nosso padrão de santidade perfeita, que consumia vinho com os seus apóstolos com regularidade e sem fazer nenhum segredo disso”. A quem estranhar tal afirmação, o pastor explica que a própria Bíblia registra que o Filho de Deus foi caluniado pelos fariseus por não seguir o seu rigor ascético, entre outros aspectos, por se dar ao excesso de bebida e comida. “Não me parece que Jesus se importasse em escandalizar fariseus”, conclui.

“BÊBADO É DO DIABO”

A questão da bebida é tratada no primeiro catecismo cristão de que se tem registro, a Didaquê, do primeiro século. Ali, fica claro o uso livre do vinho, seja na eucaristia ou no consumo cotidiano dos irmãos. De fato, havia até mesmo uma instrução determinando a existência de um reserva da bebida da comunidade para os profetas visitantes e, na ausência destes, dado aos pobres.

Clemente de Alexandria (que viveu aproximadamente entre os anos 150 e 215 da Era Cristã) julgava absolutamente justo ao homem consumir a bebida para o seu relaxamento e defendeu fortemente a presença obrigatória do vinho na Ceia do Senhor, contra as tentativas de gnósticos de substituir o vinho por água. 

Don Perignon: o monge inventor do Champagne. Os religiosos deixaram a sua marca na história das bebidas fermentadas.

Por fim, o período marca a consolidação na Igreja da visão da moderacionista –ou temperante- em relação ao álcool. E o aspecto curioso a este respeito é que a base teológica desta visão não tem origem no cristianismo, tão pouco no judaísmo. O conceito de temperança é um “empréstimo” da filosofia grega, mais especificamente do esquema de Platão. Foi dali que Santo Agostinho, Santo Ambrósio e outros se municiaram para construir o conceito das quatro virtudes cardeais ou cardinais do cristão (prudência, justiça, temperança e coragem). E foi a partir desta ótica que a questão do consumo álcool recebeu juízo dos grandes doutrinadores da igreja: o álcool não é um mal em si, mas uma benção de Deus e o seu abuso, este sim, um pecado, uma manifestação da gula, um dos sete pecados capitais. Todos os males causados pela embriaguez são derivados da falta de temperança. 

As vistudes cardeais do cristão no afresco de Rafael. O cristão é chamado a ser temperante em relação ao alcóol.

O fim do Império Romano, no século 5, fez surgir o modelo econômico feudal, no qual os mosteiros, abadias e outras estruturas religiosas passaram a produzir os seus víveres – e o vinho era item fundamental, não apenas na dieta, mas para as celebrações religiosas. A cerveja também era produzida e largamente consumida pelos religiosos. Os monges foram responsáveis pela maior parte da produção de vinho e cerveja na idade média e também pelo aprimoramento dos processos de fabricação. A disseminação de técnicas entre os mosteiros e ordens envolvia tipos de vinhas, grãos e sistemas de estocagem e fermentação. O vinho era motivo de celebração e a igreja católica relacionou diversos santos à produção do álcool, entre outros: São Adriano e São Armando – padroeiros dos cervejeiros e dos donos de taverna e São Martinho e São Vicente, padroeiros do vinho e dos vinicultores. 

Na idade média a produção de alcóol é dominada pelos religiosos cristãos.

A Reforma Protestante é marcada pelo retorno às Escrituras, mas também pelo esforço dos reformadores em romper com as tradições católicas o quanto fosse possível, estabelecendo uma distância não apenas teológica, mas também cultural. Contudo, a visão dos reformadores quanto ao consumo da bebida não recebeu novo escrutínio, ao contrário: eles doutrinaram a Igreja a receber a bebida como uma bênção de Deus e a usufruir dela com moderação, não se deixando dominar por ela. Lutero consumia vinho e era conhecido como um grande bebedor de cerveja, produzida por sua esposa, Catharina. Já João Calvino recebia como parte de seu salário anual da Igreja Reformada suíça sete tonéis de vinho. Até os principais tratados de fé escritos nesse período – como confissão belga (1561) no artigo 35; o catecismo de Heidelberg na pergunta 80 (1563); no artigo 28 dos 39 artigos da doutrina Anglicana (1571); na fórmula Luterana de Concórdia no artigo 7 (1576); e no capítulo 29 da Confissão de Westminster (1647) – faziam clara menção ao uso do vinho.

E também os puritanos, sempre tão associados a um padrão frugal e conservador de comportamento, não dispensavam uma caneca. 

Mayflower levou os puritanos ( e muita cerveja) para a América.

Vindos para o Novo Mundo em busca da liberdade de exercer a sua fé e fazer da nova terra um preambulo do reino celestial, nossos irmãos não esqueceram a bebida na velha Europa, ao contrário. O navio Mayflower que os trouxe ao novo mundo carregava mais cerveja do que água – quase 30.000 litros da bebida e, ao desembarcarem, em Plymouth Rock –EUA, adivinhem qual foi o primeiro prédio permanente que eles construíram? Uma igreja? Uma capela? Não. Uma cervejaria! Increase Mather, clérigo renomado, presidente da Universidade de Harvard e protagonista dos célebres julgamentos relacionados a bruxaria em Salem, resume o ponto de vista dos puritanos sobre o tema em seu sermão Ai dos bêbados, de 1673: “A bebida é em si uma criação pura e boa de Deus, e deve ser recebida com gratidão, mas o abuso de bebida é de Satanás; o vinho é de Deus, mas o bêbado é do diabo.” Azar das bruxas da época e sorte de quem podia apreciar um bom copo de cerveja com assado no dia de ação de graças. 

O metodismo marca o início da mudança da visão da igreja em relação ao alcóol.

O movimento metodista nas Ilhas Britânicas marca o início da mudança da visão da igreja em relação ao consumo do álcool. O célebre evangelista John Wesley, no século 18, foi um dos primeiros a se insurgir contra os excessos de bebida entre os crentes, e também pioneiro na articulação de um movimento de proibição do seu uso. Em seus sermões, Wesley reprovava o uso não-medicinal de bebidas destiladas, como conhaque e uísque, e dizia que muitos destiladores que vendiam seus produtos indiscriminadamente não eram nada mais do que “envenenadores e assassinos amaldiçoados por Deus”. Novamente, o contexto histórico-cultural não deve ser ignorado. À época, com o advento da Revolução Industrial, as cidades não ofereciam infraestrutura suficiente para atender às demandas da população que afluía do campo para trabalhar nas fábricas. Faltava água potável e as bebidas destiladas e fermentadas eram largamente usadas”. O ambiente de miséria, somado à embriaguez endêmica, resultou em um grave problema social.” 


O movimento de temperança surge, em principio, como reação da Igreja ao sério problema de saúde pública provocado pelo alcoolismo nos Estados Unidos. Desde a Corrida do Ouro o Whiskey era a bebida da escolha popular e a cultura dos saloons se espalhava pela nação, trazendo consigo todos os outros males que lhe são próprios e já muito explorados nos filmes de bang-bang. A maioria dos estudiosos concorda que o marco zero foi a publicação, em 1805, de um folheto de autoria do médico Benjamin Rush tratando dos males do álcool. Pela primeira vez, foi introduzida a noção de vício potencial inerente ao consumo de bebidas destiladas e o autor prescreve a abstinência como única cura. Rush, presbiteriano, foi um dos signatários da Declaração de Independência americana e fundador da Sociedade Bíblica da Filadélfia. A relevância do autor explica o impacto que a sua obra recebeu na sociedade. 

Arcebispo William Mikler: A mudança de um elemento da Ceia do Senhor é uma dupla ofensa.


O arcebispo episcopal William Mikler, do Apostolado para as Nações, com sede nos Estados Unidos e igrejas em todo o mundo, incluindo o Brasil – país que visita com regularidade –, lembra que este não era um movimento apenas religioso, tanto que um dos polos mais importantes do esforço partiu das feministas, mulheres como Frances Willard e outras personalidades ligadas ao movimento sufragista feminino que queriam a sua voz na nação (voto) e fizeram da igreja o seu palanque principal. O afastamento dos homens da igreja, que foram lutar a primeira guerra, ajudou muito a conquista deste espaço no cenário político e nas congregações. 
As mulheres estadunidenses lideraram o proibicionismo.

 “O movimento envolvia uma grande disputa por espaço político e, aos poucos, sob o entulho do farisaísmo, foi tomando conta da Igreja, chegando ao ponto de banir o vinho da Ceia do Senhor, o que vai diretamente contra a um mandamento de Cristo.” O resultado, explica Mikler , foi a defesa do proibicionismo como política de Estado, um dos motivos da Lei Seca – emenda à Constituição americana que proibiu a venda e o consumo de álcool no país. O tiro acabou saindo pela culatra, aumentando o consumo no país e estimulando as destilarias clandestinas, a exploração ilegal da indústria de bebida e o crime organizado. 

Para Mikler, a questão do alcoolismo, naturalmente, merece a atenção da Igreja, mas o grande erro do movimento de temperança foi construir uma teologia apontando a bebida como algo inerentemente mau, justificando, assim, a retirada do vinho da Ceia. “Isto foi uma dupla ofensa: A Deus, que deu o vinho ao homem, e a Jesus, que escolheu este elemento para a Ceia.”

Mais tarde, quando o metodista Thomas Welsh desenvolveu um processo de fermentação do suco de uva capaz de conservar a bebida sem promover a fermentação alcoólica criando o “suco de uva”, deu-se a substituição do vinho na comunhão. Contudo, vale lembrar, este não é o mesmo elemento (vinho) e nem um subproduto natural. O prensado natural da uva é o mosto (não alcoólico), o qual evolui rapidamente para um produto alcoólico, função da fermentação natural.

Rev. Rodrigo Lima: Fábulas para retirar o vinho das Escrituras.
Desde então, há até gente que defenda a tese de que a bebida consumida por Jesus não era alcoólica. O pastor Rodrigo Lima, funcionário público e pastor da Igreja Presbiteriana Independente em Rondônia, rechaça essa ideia usando a própria passagem bíblica que narra o milagre da transformação da água em vinho. “Não bastasse a incoerência de tal afirmação com o comentário registrado nas Escrituras, quando alguém ali estranhou receber o ‘bom vinho’ àquela altura da festa, o vocábulo grego para definir a bebida servida por Cristo – ouinos – é o mesmo usado em todo o Novo Testamento em referência ao vinho alcoolico comum”. Mesmo assim, ele passa longe do copo, e tem bons motivos para isso. “Sou filho de pai alcoólatra, e a bebida destruiu não só seu casamento dele, como minha própria relação com ele. Por causa desse trauma eu não bebo, mas não recrimino quem o faça.”


LÍCITO x CONVENIENTE

Associados, na Palavra de Deus, a uma série de problemas – caso de Noé e Ló, personagens bíblicos, que cometeram desatinos quando embriagados –, exageros com o álcool trazem não apenas malefícios espirituais, como a ruína de famílias, episódios de violência e vidas destruídas. O estigma social do álcool é tão intenso que muitas igrejas evitam até mesmo o vinho na celebração da Ceia. “Fazemos isso por consideração àqueles irmãos já enfrentaram ou ainda têm problemas com o alcoolismo”, explica o pastor Paulo Cesar Brito, líder da Igreja Missionária Evangélica Maranata, do Rio de Janeiro. Como também é médico, Brito sabe bem quais são os efeitos do álcool no organismo humano e que basta uma pequena dose para trazer de volta um vício devastador que, muitas vezes, foi deixado para trás graças à fé. Por isso mesmo, nas congregações de sua igreja, os pequenos cálices da comunhão trazem apenas alguns mililitros de suco de uva – o bastante, no seu entender, para manter o simbolismo e o significado espiritual do ato.


Mas tal posicionamento já foi (e continua sendo) alvo de polêmica. O teólogo reformado Keith A.Mathison é autor de trabalhos respeitados sobre o assunto. Ele acredita que a retirada do vinho da Santa Ceia é uma questão que desafia qualquer principio ordenador que se use na Igreja protestante. Em um de seus artigos mais recentes, Mathinson lembra que a noção do princípio regulador do culto – segundo o qual, no culto de Deus, o que não é ordenado é proibido – é ignorado por completo “quando o assunto é a mudança de um elemento na celebração do mistério da Ceia do Senhor”.

As igrejas reformadas subscrevem formalmente este princípio. Mathison lembra a história de Nadabe e Abiú, narrada em Levítico 10, para ilustrá-lo. “Deus emitiu comandos específicos sobre como devia ser adorado. Nadabe e Abiú decidiram que seria aceitável mudar algo. Ao fogo estranho, Deus respondeu com destruição”. Para o autor, Jesus instituiu a Ceia com pão e vinho, e não há autorização para mudar isso, assim como não se pode suprimir a água no sacramento do batismo.
Nicodemos: "Nas igrejas presbiterianas o uso do vinho na Ceia fica a critério das igrejas locais."

O pastor presbiteriano e chanceler do Instituto Mackenzie, Augusto Nicodemos Lopes, contemporiza: “Não creio que princípio regulador seja tão abrangente a ponto de exigir que seus defensores tenham que usar o vinho. Ele trata de princípios que regem o culto público, e o uso de vinho ou suco de uva é uma questão de circunstância, e não de elemento de culto ou de princípios.” Nicodemos lembra que, mesmo no Brasil, não existe uma unanimidade entre os reformados sobre o uso do vinho ou de suco na Ceia. “Fica a critério das igrejas locais. Fui pastor da Igreja Suíça de São Paulo onde se usa vinho. E pastoreei igrejas presbiterianas onde se usava ou um ou outro. Isso vai muito da mentalidade do pastor e do Conselho.” 

Barros: Pentecostais transformaram costume em doutrina.
A predominância da visão abstencionista, nas denominações históricas esta posição não é manifestada oficialmente. “O que não acontece entre os pentecostais, neopentecostais e grupos afiliados ou decorrentes destes”, observa, Thiago Lima Barros, advogado, servidor público federal e pesquisador da história da igreja. : “Esses grupos são os únicos que elevaram tais restrições ao status de doutrina; se não na teoria, pelo menos na prática diária”.

 Para ele, a importância do movimento pentecostal e sua influência sobre toda a Igreja Evangélica brasileira explica muito a posição predominante em relação ao álcool no Brasil – “E não apenas neste aspecto, mas toda uma tradição de usos e costumes”. Diácono da Igreja Nova Aliança, comunidade de linha pentecostal, Barros lembra que na década de 40 após tentativas mais ou menos draconianas, em 1975 na 22ª reunião da Convenção Geral das Assembleias de Deus, realizada em Santo André (SP) deliberou oficialmente sobre vestuário, aspectos da aparência, a abstenção do uso de aparelho de televisão e, claro de bebidas alcoólicas. E estas posições só encontraram algum relaxamento em 1999, por ocasião do 5º Encontro de Líderes da Assembleia de Deus, onde as exigências foram contextualizadas, ainda que sem se abrir mão abrir mão da importância dos usos e costumes como prática saudável e de identidade da igreja.”

O diácono oferece um posicionamento conciliatório: “Nenhum cristão realmente nascido de novo em Cristo vai defender libertinagem ou embriaguez, que são posturas de evidente mundanismo. Precisamos, de fato, ser santos como o nosso Senhor o é . O problema é que, no afã de vivenciar essa santidade, houve um retorno inconsciente ao legalismo mosaico e aos seus rudimentos fracos, e o bebê foi jogado fora junto com a água do banho.”

Zibordi: Nem tudo convém ao crente.
Pastor da Assembleia de Deus, a igreja que foi a principal responsável por essa influência, Ciro Sanches Zibordi cita o texto de Efésios 5.18 para enfatizar a importância de o crente ser dominado pelo Espírito Santo. Ele justifica a abordagem mais conservadora da denominação com um argumento baseado na história e na realidade social da expansão assembleiana. “Como se sabe, a igreja Assembleia de Deus sempre atuou entre as pessoas mais carentes, em favelas e morros, por exemplo, onde muitos alcoólatras são transformados radicalmente pelo poder do Evangelho. Não faz sentido dizer a pessoas que foram libertas de maneira sobrenatural de um vício que elas podem continuar usando com moderação a substância que abandonaram.” 
 

Autor de títulos como Erros que os pregadores devem evitar e Evangelhos que Paulo jamais pregaria (ambos editados pela CPAD), o pastor, que atua na Assembleia de Deus do Ministério de Cordovil, no Rio de Janeiro, afirma que todo patrulhamento deve ser evitado: “Ninguém tem o direito de interferir na individualidade e na privacidade das pessoas salvas em Cristo”. De fato, mesmo o apóstolo Paulo, tão radical nas regras de conduta que prescreveu à Igreja primitiva em suas epístolas, mostrou-se transigente em relação à bebida. Ele chegou a recomendar a seu filho na fé e colaborador ministerial Timóteo que usasse “um pouco de vinho” para melhorar suas enfermidades digestivas.

“A Palavra de Deus é um livro de princípios, e isso deve ser levado em consideração quando tratamos de assuntos tão delicados como o consumo de bebidas alcoólicas”, continua o pastor Zibordi. Por outro lado, pondera, um líder cristão consciente pode e deve pregar contra o uso da bebida e seus efeitos. “Tudo o que um alcoólatra precisa é de uma transformação radical, ao invés de uma orientação dúbia. Logo, a despeito de a Bíblia não condenar a bebida alcoólica pela força de mandamento, ela mostra que nem tudo o que lícito é conveniente para o cristão, conforme I Coríntios 6.12”. 








Extra

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