Catedral é uma
banda brasileira de rock cristão carioca formada no final da década de
80. Foi a banda cristã mais notável do país na década de 90, líder em
vendagem de CDs . Uma trajetória na mesma onda do Rebanhão, Oficina G3,
Fruto Sagrado, Resgate e Katsbarnea.
Na virada do
milênio, o grupo decidiu não se limitar à música cristã. Catedral foi a
primeira banda cristã a questionar os rótulos e o patrulhamento sobre a
temática de sua produção artística. Na ocasião, os seus componentes
protestaram contra as limitações impostas pelo meio evangélico, no qual,
maioria entendia que uma banda de rock cristã não poderia abordar
outras temáticas em sua produção artística, tais como: o amor, a
justiça, a crítica social e política, etc.
A Banda
Catedral recusou os limites impostos no meio gospel. Isto, obviamente,
resultou em muitas polêmicas. Basta lembrar que, neste nosso meio
evangélico, até bem pouco tempo, a maioria sequer aceitava que um músico
cristão tocasse música secular. Tanto mais manter uma carreira paralela
dedicada à música popular, ainda que como instrumentista contratado.
O fato é que a
Catedral superou este momento e consolidou uma carreira de muito
prestígio, fugindo dos rótulos e contando com admiradores evangélicos e
não evangélicos. A banda colecionou êxitos em sua carreira, sem os
rótulos, e ainda garantiu muito espaço na cena artística cristã,
conquistando, em várias edições, prêmios relevantes , como o Troféu
Talento.
Catedral está
inaugurando uma nova fase em sua carreira com um contrato com a Sony
Music. Para entrevistar Kim, o líder da banda, Genizah reuniu o editor
Danilo Fernandes e o colunista Carlos Lima.
Genizah - No
final da década de 90, em um cenário com pouca pirataria, ao menos no
gospel, vocês tiveram uma vendagem assombrosa e eram, disparados, a
banda de rock cristão mais famosa do pais. Como este novo cenário
digital está tratando vocês? E vocês, o que tem feito para surfar esta
nova onda que mudou quase tudo na cena artística, desde a produção,
vendas, ao relacionamento com o público?
Kim -
Acho que em termos de vendas todas as bandas de rock perderam muito com
esse novo cenário. Digo isso, pois esse fato atinge com muito mais força
o público desse estilo musical. Mas também, por outro lado, temos uma
divulgação hoje muito forte na internet. Um contato muito próximo com o
nosso público que é diferenciado e por isso mesmo formador de opinião!
Acho que, na verdade, todos precisam buscar novos formatos e sobreviver
aos novos tempos. E quero destacar que mesmo com tudo isso tivemos na
última década {2003/2013} uma média muito boa de vendas de CDs e DVDs.
Genizah -
Já que falamos de internet, vocês foram as primeiras vítimas desta
tradição centenária que é a fofoca de igreja e que, no caso de vocês,
mesmo antes do florescer das redes sociais que deram ares cibernéticos e
apocalípticos ao fuxico gospel, resultou em um assédio maledicente,
avassalador, incluindo uma mentira cabeluda envolvendo uma pretensa ida
de vocês ao JôSoares em que vocês teriam negado Jesus três vezes. Como
foi passar este perrengue? Como vocês interpretam este comportamento de
certa parcela minoritária (porem barulhenta!) dos evangélicos?
Kim -
Até hoje não entendo como alguém pode ser “tão estúpido” ao ponto de
acreditar em uma asneira dessas! Sinto pena... Bastava entrar em contato
com a produção do Jô e perguntar para ver que NUNCA gravamos tal
programa. Sempre fomos alvos de mentiras tolas, toscas, ás vezes até
mesmo insanas oriundas de mentes pequenas, cegas e fanáticas, mas isso
nunca nos esmoreceu. Sempre tivemos dentro dos nossos corações o que
precisávamos: a força e o talento que Deus sempre nos deu. E isso foi o
que sempre nos importou!
Genizah -Vocês
estão entre os dinossauros do Rock Cristão nacional, junto com a
geração do Rebanhão, Oficina, Fruto Sagrado, Resgate e Katsbarnea... E
já, desde o início, dedicaram canções à temática da fome e sede de
justiça, da critica política e social. Hoje, isto já é mais comum,
modinha, até. Como foi ser pioneiro? E como vocês veem, hoje, o
engajamento e a temática da música de vocês?
Kim -
A Banda Catedral realmente foi a primeira a tocar em assuntos
diferenciados dentro do meio gospel. A primeira a falar de Deus com
poesia de uma forma popular, abstrata e metafórica. A primeira a tratar
de temas sociais sob um aspecto amplo e notório. Nos sentimos bem por
tudo isso. São dezenas de músicas que são atuais, por serem tão fortes e
verdadeiras. Nossa música tem sido atemporal por isso. Porque ela é
ideológica. Tem seu próprio caminho. E, nesse caminho, a qualidade e o
conteúdo sempre foram indispensáveis.
Genizah - Que outras temáticas musicais, além da cristã, tem interessado a vocês explorar?
Kim -
Falamos de tudo que tenha conteúdo e que seja positivo para a
juventude. Nossa posição contra as drogas por exemplo é marcante dentro
da nossa carreira. Nosso envolvimento nas causas sociais, inclusive
destinando em alguns CDs um percentual para algumas instituições. A
própria democratização da nossa música. Enfim, a Catedral é diferente,
aliás, sempre foi...
Genizah - Como vocês estão vendo esses novos tempos de protestos no Brasil?
Kim -
Acho muito bom as pessoas acordarem de vez! É preciso lutar pelo que
você acredita! Mas para isso é preciso ter educação e consciência
daquilo que você quer de verdade!.Acho que ainda vamos ter muita coisa
pela frente até alcançarmos o ideal! Agora sobre uma coisa não tenho
dúvida e espero que o povo dê o seu recado no ano que vem: é preciso
reformular o cenário politico desse País em 100 %! Renovação total já!
Genizah - Dona
do meu coração e Estações são as duas faixas mais compradas do CD M.I.M
"Maior Idade Musical" (trabalho com 14 faixas inéditas - Lançamento da
Sony Music em 2013) no iTunes. São duas canções românticas. Era o que
vocês esperavam?
Kim -
Nosso trabalho sempre teve também uma conotação romântica forte e isso é
muito bom. Eu diria que falar de amor num mundo com tanto desamor é
fundamental. Até porque Deus É Amor. Pra Sempre!
Genizah -. Vocês tem 25 anos de estrada e demonstram gás para mais 25. O que ainda os motiva? Qual é o projeto que está na mira?
Kim -
O que nos motiva é o nosso compromisso com a qualidade naquilo que nos
propomos a fazer. Temos uma ideologia de trabalho que não se vende a
modismos de mercados... Temos uma independência musical que conquistamos
com mais de 3 milhões de CDs vendidos. Temos fãs conscientes.
Conhecedores de música. Isso é muito importante na carreira de uma
Banda...
Genizah - Rodolfo
Abrantes (ex-Raimundos) declarou recentemente que há uma cultura de
idolatria no meio gospel. O pessoal do Resgate também levantou a
questão, e ainda constatou a mesmice criativa no meio, uma pasteurização
das canções e, pior, o distanciamento da verdade bíblica em boa parte
das letras. Qual é a opinião de vocês sobre estes três pontos
(idolatria, mesmice criativa e apostasia nas letras) ?
Kim -
Com relação à questão da idolatria acho que é uma bobagem... A grande
maioria do público sabe muito bem diferenciar o que é prestar culto a
Deus e o que é gostar da música de um cantor, cantora ou banda! Não
entra na minha cabeça uma situação dessas! Até porque o abismo entre
elas é enorme. Com relação à mesmice criativa é simplesmente uma questão
mercadológica. Se o público aceita e quer essa mesmice o mercado
investe. No fundo é isso, nada mais... Envolve muito mais uma discussão
de educação musical e ai é muito mais profunda essa discussão... Sobre a
apostasia nas letras nada mais é do que um reflexo do que algumas
pessoas querem e precisam: Músicas que defendam as suas teses
estapafúrdias de “prosperidade a todo custo”, “a inversão de papéis na
questão da relação fé x com Deus onde o homem manda e Deus obedece” e
etc. São verdadeiros mantras para sustentarem questões absurdas que
pairam no inconsciente de um povo que quer apenas vantagens enrustidas
na religião para se eximirem de culpa e não o sentido verdadeiro do
evangelho de Cristo. É isso!
Genizah - Sobre ofilho caçula, M.I.M "Maior Idade Musical .O que o público pode esperar deste trabalho?
Kim -
Musicalmente, o novo trabalho reflete a maioridade artística que o
grupo alcançou em quase 25 anos de carreira, a nossa segurança como
músicos, intérpretes e compositores. Ele traz todas as vertentes de
estilos que formam o som da Catedral. Há rock progressivo, hard rock,
baladas, folk, MPB e outras levadas características do nosso trabalho.
Destaco a linda balada pop/rockromântica “Dona do meu coração” que teve
grande aceitação nas redes sociais e já tem um clipe no canal Vevo,
“Estações” outra faixa pop/romântica que o público curtiu demais e
“Minha Casa” uma balada pop/rock que será a música de trabalho nesse
lançamento da Sony.
Genizah - Kim,
em 2002, em entrevista para o Estadão você afirmou ‘Éramos considerados
até um pouco perigosos." Há pouco mais de um ano você postou a seguinte
frase no seu perfil no Facebook: “Não temos ministério, temos uma
carreira musical consolidada.” Alguns blogs repercutiram, Genizah
incluso, e tivemos muita polêmica. O interessante é que a frase não foi
nadaalém do que vocês já não tivessem dito no passado, incluindo a
rejeição ao patrulhamento e as amarras artísticas acompanhando o rótulo
de banda gospel. Por aqui, tivemos muitos comentários passionais,
viscerais mesmo, reportando fatos de longa data, contudo, a maioria foi
favorável, com muita gente concordando com a ideia de que, no fim das
contas, aquilo que vocês já defendiam “na virada do século” -e que lhes
rendeu um bombardeio de críticas na época- esta hoje escancarado e é o
óbvio ululante para qualquer um que pense. Como você enxerga esta
mudança? Que tal não ser mais perigoso? Dá vontade de ousar mais?
Kim -
Não me lembro bem dessa entrevista ao Estadão, mas quando disse em 2002
que “éramos considerados perigosos” foi em tom de ironia à parte do
sistema que insistia e ainda insiste em nos castrar, pois sabe muito bem
que a nossa música tem um “feitio libertador” em termos pensantes e
isso para alguns é prejudicial, pois se a juventude começar a pensar e
refletir não vai admitir certas coisas que vemos por ai... Sobre a
questão da declaração “de não termos um ministério”, quis apenas deixar
bem claro que também damos importância a nossa carreira em termos
“artísticos e culturais” e que não temos intenção de formar uma Igreja
ou de virarmos pastores! Foi apenas isso que quis frisar! Somos uma
Banda musical formada por pessoas que professam a fé Cristã, mas que faz
música para todos, pois o nosso trabalho é diferenciado e independente
em termos ideológicos. E mais: a nossa Fé é sagrada e não a
comercializamos!